Histórico das Casas onde funcionará o Museu

RUA JOÃO JACINTO

Rua João Jacinto recebeu este nome em homenagem a João Jacinto da Silva, um dos primeiros desbravadores da área nos idos de 1850.  João e Manoel Jacinto da Silva (da Fazenda Boa Esperança) e João Pedro Vieira Machado (da Fazenda Entre Morros), dois ricos fazendeiros locais, doaram 50.830 m⊃2;, pouco mais que um alqueire mineiro, que resultou no Patrimônio da Igreja ao redor da capela. João Jacinto também doou a quantia de Rs 20:000$000 (vinte contos de réis) para a Igreja na época.

Situadas à Rua João Jacinto, números 181 e 201, no Bairro Boa Esperança, Muqui, E.S., as “Casas Amarelas”, ou casas da “Família Rodrigues”, como também são conhecidas, ainda mantém suas belíssimas fachadas, porém as edificações se encontram em péssimo estado de conservação. Antigamente possuíam duas escrituras originais hoje reduzidas apenas a uma, registrada no Cartório de Registro de Imóveis e alienada ao Museu Dr. Dirceu Cardoso, Muqui e sua História, órgão vinculado à Associação dos Ex-alunos do Colégio de Muqui.

Na medida em que o núcleo urbano se desenvolvia, o eixo da Boa Esperança começava a expandir-se, pois, além de ser caminho da Morubia que conduzia às primeiras fazendas da região, como “Boa Esperança” (a mais próxima do vilarejo, parte hoje propriedade da Família Lima), “Andes”, “Fortaleza”, “Alpes”, “Santa Maria” e “Sumidouro”, em 1927 servia de acesso ao Colégio Paroquial Don Fernando de Souza Monteiro (em homenagem ao Bispo de 1914), fundado ao pé da Pedra do Dragão, ao lado da ainda sobrevivente Capela São José, como também ao prédio onde funcionaria a Santa Casa de Misericórdia de Muqui, cuja pedra fundamental fora colocada em 1929, mas que ao contrário, desocupado, em 1933 serviu de instalações para o proeminente Colégio de Muqui dirigido por Dirceu Cardoso, parte do acervo do Museu em questão.

Pelos idos de 1926, um atelier de costura também foi inaugurado à Rua João Jacinto, onde se confeccionavam enxovais, camisas para senhoras e senhores, serviço altamente esmerado. Como prova, neste eixo encontram-se diversas casas, datadas da década de 25, igualmente tombadas pelo Conselho Municipal de Cultura.

Até o momento, os registros mais antigos referentes à Rua João Jacinto são observados no Livro No. 1 da Escrituração da Capela São João Batista, de 9 de dezembro de 1909, quando o Vigário Henrique Sissing iniciou as primeiras cobranças de aforamento nesta rua das posses No.16 com 285 m⊃2; e a No.17 com 684 m⊃2;, propriedades de Felício Lethieri e Alcides Francisco Fernandes respectivamente, sendo Matheus Paiva o escriturário do livro, isto é, o secretário da “Fábrica da Capela”, como era chamada a comissão nomeada pelo Bispo Dom Fernando por ato de posse de maio de 1910, presidida pelo Padre José Bernardino dos Santos e Silva, a fim de que fossem captados aforamentos em atraso e/ou doações para a reforma e construção do segundo templo, como também para as despesas do culto divino.

Já em 1909 havia ruas que cortavam o antigo Arraial dos Lagartos, como antes fora chamado o vilarejo, na ordem: Av. Vieira Machado, Rua Cel. Luiz Carlos, Rua dos Operários, Travessa dos Operários, Rua São João, Rua Primavera e Rua João Jacinto. Esta última, onde se encontram as “Casas Amarelas”, recebeu este nome em homenagem a João Jacinto da Silva, um dos primeiros desbravadores da área nos idos de 1850.  João e Manoel Jacinto da Silva (da Fazenda Boa Esperança) e João Pedro Vieira Machado (da Fazenda Entre Morros), dois ricos fazendeiros locais, doaram 50.830 m2, pouco mais que um alqueire mineiro, que resultou no Patrimônio da Igreja ao redor da capela. Foi subdividido em pequenos lotes sobre os quais o bispado passou a incidir a cobrança de aforamento anual, um tipo de imposto vitalício pago à Igreja pela posse da área, além do laudêmio, imposto devido ao vendedor. João Jacinto também doou a quantia de Rs 20:000$000 (vinte contos de réis) para a Igreja.

A CASA MAIOR (No. 181)

Na casa maior encontramos 11 cômodos sem contar com a varanda, com porão onde se pode observar várias colunas de sustentação sobre enormes blocos de pedra e, na casa menor, 7 cômodos sem contar com a varanda. Atualmente ambas encontram-se em péssimo estado de conservação. Em suas fundações observam-se os métodos de edificação das colunas e paredes, em pedras e madeira além de tijolos e partes em taipa, além de pé-direito alto, com cerca de 4m. Seus assoalhos eram de madeira, apoiados em avantajados barrotes de madeira.

Quanto ao aspecto arquitetônico das casas, a vinda da família real portuguesa, juntamente à chegada da missão cultural francesa em 1816 e, mais tarde, à fundação da Academia de Belas Artes, impingiu o marco definitivo para a introdução dos novos gostos europeus no Brasil. A nova moda exigia adequação das construções às novas necessidades técnicas, como os serviços de água e esgoto, iluminação, etc.

Surge a casa de porão alto, uma transição entre os sobrados e as casas térreas. Na medida em que a mão-de-obra utilizada para os serviços domésticos deixou de ter a contribuição dos negros, o porão alto, além de preservar a intimidade do interior das casas, também passa a ser utilizado como alojamento dos novos tipos de empregados especializados. Vem seguido por novos esquemas de implantação das construções que deixam de ser geminadas, afastadas de um dos limites laterais dos lotes, conservando-se, entretanto, as fachadas alinhadas à rua. Especificamente em Muqui, a Lei Municipal No. 27 sancionada por Luiz Siano em 24 de julho de 1920 regulamenta o afastamento das cumieiras para que as fachadas recebam platibandas.

As casas vêm acompanhadas de varandas apoiadas em colunas de ferro ou madeira e apresentando guarda-corpo de gradis de ferro, madeira ou estuque e acessadas por degraus de mármore nas construções mais imponentes, reforçando os ambientes de requinte introduzidos na nova vida social brasileira da época. Os telhados apresentam quatro águas, cobertos com telhas francesas e acabamentos dos beirais em lambrequins, calhas e condutores em cobre. Época em que aparecem os primeiros passeios, calçamentos e jardins ao gosto europeu cercados com grades de ferro. Os tijolos de barro substituem a taipa de pilão, os adobes, os paus-a-pique. Aparecem novos desenhos de venezianas e vidros. Aparece o costume de pintarem-se barrados nas alas sociais, pois eram locais de suma importância para o aconchego da família e de visitantes. Algumas famílias confirmam ter observado barrados pintados em antigas fazendas, reiterando que esta técnica de pintura vazada já vinha sendo usada fora da área urbana.

Não se sabe ao certo o empreiteiro de obras contratado em 1925 por Manoel Alves que ergueu a casa à Rua João Jacinto. Uma vez que se tem certeza de que José Monti e Godofredo Alves foram os autores dos estênceis (pinturas vazadas) da residência do Dr. Djalma Poty Formel na mesma época e cidade, inclusive apresentando os mesmos moldes usados na casa maior onde funcionará o Museu, com diferença apenas nas cores escolhidas, pois o livro-caixa do médico foi encontrado em sua escrivaninha acusando pagamento e quantidade de material utilizado pelos pintores em 2009, sabe-se que foram eles que pintaram as alas sociais da casa maior onde será instalado o Museu Dr. Dirceu Cardoso, Muqui e sua História.

Foram eles que providenciaram as preciosas pinturas nas alas sociais, com suas paredes azuis e barras florais, as quais farão parte das obras de restauro previstas. Pela coincidência das datas, são grandes as chances de a casa ter sido construída por Antônio Pimenta, sócio de José Monti . Têm-se também vereditos de pessoas que assistiram ao pintor de nome Godofredo Alves, sobre andaimes com chapeuzinho de jornal à cabeça igualmente providenciando pinturas vazadas, como por exemplo na Casa “Família Porcari”, hoje “Famíla Caçadini”, cuja inscrição é de 1923.

O empreiteiro de obras Antônio Pedro Ribeiro já anunciava em o “Muquyense” em 1916 e a partir de 1923, João de Araújo, oferecendo serviços de construção de prédios em qualquer estilo, à Rua Municipal, 34, Muqui (atual Av. Avides Fraga). Também em 1922 e 1923 leem-se anúncios do Dr. Alberto Maisonneuve, de São Pedro de Itabapoana, oferecendo serviços de engenheiro, sendo que se instalou em Muqui em abril de 1922. Em 1923 a Prefeitura tomou o cuidado de anunciar no “Muquyense” para que o povo tomasse cuidado com a contratação de maus construtores que podiam comprometer os belos casarões e a paisagem da cidade .

Dois importantes carpinteiros da época foram José Dercy e Joaquim de Almeida. E importante marceneiro e carpinteiro, José Raymundo Nonato desde 1914. Montaram

móveis e tetos personalizados em madeira, além de vários operários envolvidos nas obras que se esmeravam levantando os belos casarões, a quem igualmente devemos homenagens.
Hoje o imóvel em ruínas está totalmente depredado, selado e interditado para uso. Desde 2008 o Museu Dr. Dirceu Cardoso, Muqui e sua História luta para conseguir reformar as casas em péssimo estado de conservação e assim instalar o primeiro museu desta magnitude no sul do estado.

MANOEL ANTÔNIO ALVES

Consta em escritura original de julho de 1927 que Manoel Antônio Alves, filho de José Alves e Piedade Alves, nascido em 11 de abril de 1872, provavelmente em Miranda Douro em Portugal (haja vista seu apelido Manoel Alves de Miranda), casado com Benedicta da Silva, comerciantes e moradores no município, vendeu o terreno a Marcos Antônio Rodrigues, agricultor, por Rs 42:000$000 (quarenta e dois contos de réis) já com a casa edificada e uma pequena em mau estado.

Manoel Antônio Alves por sua vez em outubro de 1925 havia adquirido a propriedade de Achillis José da Silva e sua mulher, Nazareth Rodrigues, cuja escritura diz que receberam a referida posse como herança de Maria Victória de Jesus, agricultora, por Rs 4:000$000 (quatro contos de réis) pelo terreno com a casa pequena em mau estado.

Maria Victória de Jesus era esposa de Egydio José da Silva. Egydio não tinha ascendentes nem descendentes e em novembro de 1921 deixou testamento elegendo Maria Victória de Jesus a única herdeira dos seus terrenos na Boa Esperança, parte com 201.000 m2 do lote 7, avaliado na importância de 20 réis o metro quadrado, totalizando Rs 4:020$000. Venderam 3 destes alqueires com matas, cafezais e pastos de capim gordura por Rs 180:000$000 em 1901 para Theophilo Vieira da Silva, mais tarde revendidos para Juvenal Ferreira Soares, levando-nos a crer que o casal é o marco zero da história das “Casas Amarelas”. Egydio era filho de Francisco Vidal, que na escritura desta venda aparece como procurador de sua nora, Maria Victória de Assunção, também chamada de Maria Victória de Jesus, pois ela não sabia ler nem escrever.

Pelos idos de abril de 1916 houve uma epidemia de varíola na vila e a Prefeitura alugou um imóvel de Egydio José na Boa Esperança por Rs 57$000 para afastar os variolosos do povo são, época em que funcionários da Higiene Pública hospedaram-se no Hotel dos Viajantes a fim de controlar a doença, quando trouxeram para a vila tubos de lympha vacínica.

Achillis era filho de João Marques da Silva e Íria da Cunha. Achillis aparece mais tarde também como procurador de Maria Victória de Jesus, afilhado e filho adotivo, e um dos 9 legatários que vieram a substituí-la após sua morte, tanto é que mais tarde aparece como outorgante de cerca de 24 imóveis na vila, haja vista as escrituras de venda em seu nome. Achillis também consta na lista de pagadores de Impostos de Indústria e Profissão da Prefeitura em 1922. Desde 1934 encontram-se registros de impostos de moradia igualmente à Rua João Jacinto em nome de Nazareth, sua esposa, referente a duas casas, uma própria e outra arrendada. Ele morreu em agosto de 1951 no bairro da Boa Esperança em Muqui.

Manoel Antônio Alves era um comerciante respeitado na vila, conhecido como Manoel Alves, dono da “Nova Padaria” aberta inicialmente à Rua Vieira Machado, 44, cujos anúncios publicavam-se a partir de outubro de 1918 no jornal “Muquyense”. Encontram-se referências sobre a Banda Euterpe, existente já antes de 1913, passando à Sociedade Euterpe em 1917, quando Manoel Alves aparece como importante incentivador, vindo a ser seu vice-presidente e também presidente honorário em 1931. Manoel foi o responsável quando da incorporação da Banda Sociedade Euterpe à Sociedade de Tiro 419. Em dezembro de 1919 Manoel suspende o fornecimento de pães e roscas para reconstrução de um forno moderníssimo em sua padaria. Em 1921 morreu Jeronymo Manoel da Silva, pai de sua esposa, Benedicta da Silva, e Manoel agradece ao povo e à Sociedade Euterpe pelo acompanhamento do féretro.

Em 1922 mudou a “Nova Padaria” para a Rua dos Operários, 12. Em 1926 reabriu um comércio à Rua João Jacinto, a “Casa Miranda”. Em 1929 passou à “Casa Esperança” onde vendia vinhos como o “Arvalheras”, legítimo do Alto Douro, cerveja “Cascatinha” a 67$ (réis) a caixa e também a “Hanseática” a 68$ (réis). Em fevereiro de 1931 mudou sua loja para debaixo do Palacete Bighi, onde no segundo andar funciona hoje a Secretaria Municipal de Cultura.

Os primeiros registros de Manoel Antônio Alves são igualmente constatados no livro de Escrituração da Capela São João Batista, porém em 1921, quando compra 1.078 m2 de Luciano Rodrigues D' Oliveira à Rua Bernardino Monteiro e os vende em 1926 para Cheibub & Cia. Consta que Manoel Antônio Alves pagava imposto de “moradia, penna d’ água e taxa sanitária” referente à casa No. 181 no valor de 115$500 pelo 1o. semestre de 1925, tanto quanto imposto industrial e de profissão em 1932 por dois de seus imóveis à Rua Vieira Machado, um próprio e outro arrendado.

Manoel Antônio vendeu sua residência a Marcos Antônio Rodrigues em 1927. Foi quando adquiriu 360 m2 de Cheibub à Rua João Jacinto, 3, antiga posse de Alime Chuquer, para onde se mudou, usando o pavimento superior como residência e explorando um comércio de aves e ovos no térreo exportando para o Rio de Janeiro. Os negócios não andavam bem e Manoel e sua esposa acabaram mudando sua loja para uma pequena portinha à Av. Vieira Machado.

Em 1930 provavelmente em razão de dificuldades para manter os negócios, mudou-se para um imóvel de Antônio Pimenta na “Vila Proletária” (antiga vila que começava pela região da Igreja Presbiteriana virando na direção do Cemitério Municipal, haja vista escritura de aforamento na Prefeitura de Muqui citando tal localização). Existem 2 registros de impostos em 1933, um na “Vila Proletária” arrendado e um, próprio, à Rua João Jacinto. A casa à Rua João Jacinto atual residência de Lucy Capai foi arrematada em 1935 por Alcides Viana em Asta Pública. Benedicta da Silva ficou viúva em 1948, vindo a falecer em 1978 aos 90 anos e 9 meses de insuficiência cardíaca.

FAMÍLIA RODRIGUES

Marcos Antônio Rodrigues, natural de Santa Maria do Randolfinho, Distrito de Póvoa do Lanhoso, Conselho de Braga, Portugal, era filho de Manoel Antônio Rodrigues e Anna Ermelinda da Silva, nascido em 15 de dezembro de 1868, falecido na cidade de Muqui, em 3 de setembro de 1940. Era neto paterno de Manoel Custódio Rodrigues e de Rosa de Oliveira e neto materno de Bento José Alves da Silva e de Anastásia Maria. Foi batizado no Conselho de Póvoa do Lanhoso, conforme termo lançado sob o No. 10, Livro 93, fls. 212, que se encontra no Arquivo Distrital de Braga, Universidade do Minho, Portugal.

Fugiu para o Brasil para não servir a guerra contra Napoleão. Ficou escondido no Convento de Mafra antes de embarcar. Chegou ao Rio de Janeiro, morou na Praça da Bandeira e lá conheceu Dr. Miguel Couto que indicou amigos e paragens no sul do Espírito Santo, onde conheceu e casou-se com Balbina Alves de Moura em 10 de junho de 1889. Balbina era natural de Oliveira, Minas Gerais, filha de Antônio Alves de Santos Moura e de Deolinda Francisca Moura, nascida em 24 de dezembro de 1875 e falecida em 21 de novembro em 1924, aos 49 anos, na Fazenda São Domingos, em São Pedro de Alcântara do Itabapoana, hoje Distrito de Mimoso do Sul.

Após o falecimento de Antônio, seu pai, sua mãe, Deolinda, regressou ao Espírito Santo, indo residir na “Fazenda Três Barras”, em São Pedro de Alcântara do Itabapoana, na companhia de seus pais Jarbas Ribeiro de Moura e Antônia Alayde Ribeiro de Oliveira. Foi onde Balbina conheceu Marcos Antônio Rodrigues e então se casaram (perante o Padre Horácio Teixeira, que reteve o passaporte de Marcos Antônio como prova de sua identidade). O casal gerou 10 filhos. Residiram na “Fazenda São Domingos” até a morte de Balbina, momento a partir do qual Marcos Antônio planejou voltar a Portugal, porém foi tentado e impedido pela oferta de adquirir um belo imóvel na cidade de São João de Muquy para viver com seus filhos.

A “Fazenda São Domingos” de Marcos Antônio fazia divisa com a “Fazenda Três Barras”, de Pedro Ribeiro da Silva, tio de Balbina (que morreu solteiro aos 86 anos em Muqui). Era conhecida rota e parada de tropeiros por ser mais próxima da vila, tornando o comércio bem movimentado na região. Pedro, bem-sucedido, que também beneficiava arroz e possuía 200 burros, convenceu Marcos a abrir uma vendinha debaixo de um pé de pitanga no meio da Fazenda Três Barras (ainda um marco citado pelos descendentes) para refazer-se da triste ausência de sua querida esposa, ocupando-se com a nova atividade. E assim Marcos acabou mudando-se para Muqui.

A família Rodrigues confirma que Manoel Antônio Alves, ciente da pretensão do interessado, e seu conterrâneo, Marcos Antônio, desolado com a morte da esposa de voltar a Portugal, convenceu-o junto a seu irmão Bernardino Antônio Rodrigues para que Manoel permanecesse no Brasil e comprasse sua bela casa em São João do Muquy à Rua João Jacinto, 181. Ali moraram quase todos seus dez filhos, embora os que iam se casando passassem suas partes às irmãs solteiras e assim sucessivamente terminando em Maria e Nair, ficando estas exclusivamente como proprietárias, cujo inventário resultou na venda do imóvel para instalação do Museu Dr. Dirceu Cardoso, Muqui e sua História.

Diz a escritura de compra por Marcos Antônio da atual casa 181, nº 476 (Identificação do tombamento):

Foram encontrados os primeiros registros de recolhimentos de Taxas e Impostos para a Prefeitura pela posse à Rua João Jacinto em nome de Marcos Antônio Rodrigues em 1931 no valor de 205$500 e também no de Arminda Moura Rodrigues em 1932 e 1933 (Jornal “Muquyense”). A casa 181 foi cadastrada na Prefeitura sob o valor de Cr$ 1.000.000,00 (um milhão de cruzeiros).
Ainda sobrevivem vestígios de uma escada de pedra, ao lado da varanda da casa 181, incrustados atrás do muro que faz frente para a rua, talvez dando acesso para a referida casa de construção simples, desde os tempos de Maria Victória de Jesus, confirmando que o terreno abrange três casas ao longo da história e não apenas duas como se imaginava .

Antigos proprietários do terreno:

Novembro de 1921 (seu pai era Francisco Vidal)

Egydio José da Silva e Maria Victória de Assunção (de Jesus)
Dono de pelo menos 201.000 m2 na Boa Esperança desde 1901
Sem herdeiros casal deixou em testamento para Achillis José da Silva
Achillis era afilhado e filho de criação de Maria Victória de Jesus, natural de Vassouras, filha de Maria Apolinária de Jesus
 

Outubro de 1925 (filho de João Marques da Silva e Iria da Cunha)

Achillis José da Silva e Nazareth Rodrigues
Venderam terreno e casa pequena em mau estado
para Manoel Antônio Alves
Valor: Rs 4:000$000 (quatro contos de réis)

28 de Julho de 1927

Manoel Antônio Alves e Benedicta da Silva  (morador 1917/1918)
Venderam casa edificada e outra pequena em mau estado
para Marcos Antônio Rodrigues
Valor: Rs 42:000$000 (quarenta e dois contos de réis)
 

Fevereiro de 2008

Marcos Antônio Rodrigues (espólio de Nair Moura Rodrigues)

A CASA MENOR (No. 201)
Em 1933, Zulmira transferiu em doação as frações que possuía sobre os imóveis para as irmãs Maria e Nair, conforme registro Nº 97, Livro 3-A, referente à sua parte do registro Nº 1957, Livro C, de 21 de abril de 1933.

A casa traz uma gravação na fachada, do ano de 1933, ano em que alguns filhos herdeiros de Marcos Antônio por terem se casado passaram suas partes para as irmãs solteiras, Maria, Nair e Zenaide. O que nos leva a crer que elas reformaram a casa menor nesta data, uma vez suas proprietárias na época.

Em 22 de abril de 1933, Mário, Áurea e outros passaram suas partes para Maria e Nair, escritura registrada em Cachoeiro de Itapemirim, conforme transcrição Nº 2.926, Livro Nº 3-L, fls. 158-59. Mário e Áurea venderam várias partes para Custódio e outros conforme Registro No. 2.927, Livro Nº 3-L, fls. 159, ambos averbados em 23 de maio de 1933.

O irmãos que se casavam passavam suas partes às irmãs solteiras e assim sucessivamente terminando em Maria e Nair, ficando estas exclusivamente como proprietárias, cujo inventário de Nair resultou na venda do imóvel para instalação do Museu Dr. Dirceu Cardoso, Muqui e sua História.

Em 1942 a casa foi alugada para Romeu Botelho e mais tarde para Anastácio Wencioneck que ali morou por 18 anos. Hoje o imóvel em ruínas está totalmente depredado e interditado para moradia. Desde 2008 o Museu Dr. Dirceu Cardoso, Muqui e sua História luta para conseguir reformar as casas em péssimo estado de conservação e assim instalar o primeiro museu desta magnitude no sul do estado.

EDUARDO MANOEL DE OLIVEIRA

Eduardo Manoel de Oliveira morava em Muquy já a partir de 1913, pois em abril deste ano alistou-se como eleitor sob o No. 223. Em 1914 existe um valor de 45$000 em seu nome no Livro de Obras da Prefeitura, no setor Luz Elétrica. Eduardo era viúvo e casou-se aos 58 anos em segundas núpcias com Norivalda quando tinha 18 anos.

Consta em escritura original de maio de 1924 que Achillis José da Silva, desta feita procurador de Maria Victória de Jesus, tendo adquirido por herança de seu falecido marido, Egydio José da Silva, um terreno de 396m2 com uma casa de simples construção vendem a Eduardo Manoel de Oliveira, agricultor, residente no município, por Rs 200$000 (duzentos mil réis) (L 22 fl. 99v). Achillis era afilhado e enteado de Maria Victória que não tinha filhos.

Parece que a situação financeira de Eduardo Manoel pelos idos de 1927 não estava estável, pois consta que devia aos cofres públicos em dívida ativa o valor de Rs 604$000. Em 1928, 814$200 e em 1929, Rs 506$700, agora menor valor talvez por abatimento da dívida quando da venda da propriedade a Marcos Antônio.

Em janeiro de 1929 Eduardo Manoel e sua mulher, Norivalda da Silva, vendem a área a Marcos Antônio Rodrigues por Rs 4:000$000 (quatro contos de réis). Diz assim a escritura da venda da casa 201, no. 475 (identificação de tombamento):

Eduardo Manoel de Oliveira já morava em Muquy já a partir de 1913, pois em abril deste ano alistou-se como eleitor sob o No. 223. Em 1914 existe um valor de Rs 45$000 em seu nome no Livro de Obras da Prefeitura, no setor Luz Elétrica. Parece que a situação financeira de Eduardo Manoel pelos idos de 1927 não estava estável, pois consta que devia aos cofres públicos em dívida ativa o valor de Rs 604$000. Em 1928, Rs 814$200 e em 1929, Rs 506$700, agora menor valor talvez por abatimento da dívida quando da venda da propriedade a Marcos Antônio.

Eduardo Manoel mudou-se em 1932 para a Avenida Jerônimo Monteiro e em 1933 para a “Vila Proletária” onde possuía 2 imóveis, um para moradia e outro arrendado. A casa 201 foi cadastrada na Prefeitura sob o valor de Cr$ 800.000,00 (oitocentos mil cruzeiros).

Voltando à família Rodrigues, Adalberto, primeiro filho de Marcos Antônio, casou-se com Erothildes em 1919 quando ainda moravam todos na Fazenda São Domingos. Por decisão de seu pai, Adalberto foi o primeiro a vender sua fração sobre os imóveis para os demais condôminos, recebendo em pagamento dinheiro para compra da casa, onde ainda hoje reside sua filha Dulce Bossois Rodrigues.

Existe um contrato de transferência de aforamento de 1936 da posse de Pedro Ribeiro da Silva de 1164 m2 à antiga Av. Municipal, hoje Av. Avides Fraga, a 10 réis por metro quadrado para Marcos Antônio, possivelmente o imóvel que Adalberto deixou para seus descendentes àquela rua.

Em razão do espólio de Balbina, sabe-se destes registros:
1- Em 2 de outubro de 1928, Adalberto passou sua parte para Zulmira, Nair, Maria, Arminda, Áurea e Zenaide no valor de 4:200$000 (quatro contos e duzentos mil réis) conforme escritura lavrada pelo Tabelião Hermínio Duarte, sob o Nº. 11.427, Livro nº 3-I, fls. 435, datado de 31 de janeiro de 1929.

2- 4- Em 19 de outubro de 1931, Arminda, Áurea e Mário passaram suas partes do registro Nº 11.427 para as irmãs Zulmira, Maria e Nair, conforme transcrição lançada sob o Nº 1.956, Livro Nº. 3-K, fls.168, quando Arminda passou sua parte do registro Nº. 11.428 a Zulmira, Nair, Maria e Zenaide, conforme transcrição lançada sob o Nº 1.957, Livro Nº 3-K, fls. 168, ambas datadas de 22 de março de 1932.

3- Em 1933, Zulmira transferiu em doação as frações que possuía sobre os imóveis para as irmãs Maria e Nair, conforme registro Nº 97, Livro 3-A, referente à sua parte do registro Nº 1957, Livro C, de 21 de abril de 1933, época coincidente com a marca impressa na fachada da casa menor.

4- Também em 22 de abril de 1933, Mário, Áurea e outros passaram suas partes para Maria e Nair, escritura registrada em Cachoeiro de Itapemirim, conforme transcrição Nº 2.926, Livro Nº 3-L, fls. 158-59. Mário e Áurea venderam várias partes para Custódio e outros conforme Registro No. 2.927, Livro Nº 3-L, fls. 159, ambos averbados em 23 de maio de 1933.

5- Por decisão de Marcos Antônio Rodrigues, quando Zenaide se casou, em 1935, todos os bens que lhe foram transmitidos no inventário de Balbina, inclusive os posteriormente adquiridos em seu nome foram transferidos para as três irmãs solteiras Zulmira, Nair e Maria em 21 de outubro de 1935 no valor de Rs 4:000$000 (quatro contos de réis), Livro 30, fls 21 e verso e 22 e verso., transcrição No.5036, Livro No. 3-A, fls 163 em 4 de novembro de 1935.

Embora Custódio, Arminda, Áurea e Zenaide ali também tivessem habitado, ao se casarem desmembraram-se do clã, enquanto Adalberto e Álvaro casaram-se antes de 1927 não tendo morado nas casas. Mesmo deterioradas, com fundações estremecidas e madeirame apodrecido, e tendo sido pilhadas ao longo dos muitos anos de inventário (autuado sob o No. 220 nesta Comarca) fechadas por mais de 15 anos, as duas casas ainda mantêm suas belíssimas fachadas ecléticas e imponentes janelas e vitrais, além de originais pinturas nas salas sociais.

Moraram seguramente ali os filhos que morreram solteiros: Zulmira, Nair, Maria (também conhecida como Maria José – carinhosamente chamada de Zezé) e Mário, lembrados por muitos moradores e vizinhos da época. Mário era solteirão, alto, muito elegante e vestia sempre seu terno de cáqui ou de casimira inglesa e jamais atendia à porta ou recebia uma visita sem vestir o paletó. Era sempre visto de chapéu de lebre com as abas ligeiramente caídas e nunca largava o guarda-chuva.

Outro imóvel da família Rodrigues também à Rua João Jacinto foi arrendado para Da. Minervina, uma antiga lavadeira, cuja área Dr. Dirceu Cardoso, quando prefeito da cidade, prestando-lhe uma homenagem, desapropriou, local também tombado como importante marco da cidade, o “Parque das Lavadeiras”, no eixo da Rota do Café, igualmente às “Casas Amarelas” onde se pretende instalar o Museu Dr. Dirceu Cardoso, Muqui e sua História.

Para ilustração, foram fotografados alguns móveis e objetos que pertenceram às casas, conforme relatos de familiares, como piano alemão “Heindorff”, marchetado em vários tons, comprado das freiras da Irmandade Jesus Maria José (ou quem sabe mais tarde

das Agostinianas) que ajudavam no Asilo e na Maternidade e moravam em uma chácara de frente ao Jardim de Infância; cama antiga de espaldar alto; cadeira de balanço; baú; chapeleira; relógio de parede; quadro da Santa Ceia que traz os nomes dos apóstolos no rodapé em belíssima moldura entalhada; piniqueira; compoteiras; cristais; sopeira; copos; saleiro; bibelôs; fronha rendada à mão e soquete de metal usado na instalação elétrica das casas.
Foi fotografada também uma grande chave de ferro atualmente niquelada para sua conservação que era da porta principal da “Fazenda São Domingos”, pertencente a Marcos Antônio, lembranças coroadas pela elegante foto da família inteira no dia em que se mudaram à Rua João Jacinto em 1927. Junto está uma foto da Rua João Jacinto já com as duas “Casas Amarelas” remetendo-nos ao ano de 1933 em diante.

Da. Zilda Bossois Rodrigues contou sobre a Irmã Carola, uma senhora afro-descendente de confiança que ajudava nos serviços da casa e sobre a existência de um Ford bigode verde, ano 1929, placa “São João de Muquy 1729”, dirigido pelo motorista da família, Chico. Geraldo comprou-o do tio Mário para que seus irmãos fossem estudar no Colégio de Muqui, pois Donato era deficiente físico e precisou desta condução até formar-se em Contabilidade. Tio Mário dirigia o carro para eles.

Enfim, alguns moradores da vizinhança afirmaram ter conhecido parte desta história, pouco antes que tudo ali se dissipasse, antes que presenciassem o último suspiro de vida destas duas belas moradias, triste realidade atual em ruínas, deixando a farta jabuticabeira, o aça-pão, a mangueira, alguns pés de café e a aceroleira, respirando solitários no triste cenário de desolação cujas imponentes instalações e fachadas precisam imediatamente de revitalização, antes que se percam estas duas pérolas representativas dos áureos tempos dos senhores do café.

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