Histórico da Folia de Reis

A Folia é uma tradição européia dos países de tradição católica que chegou ao Brasil, trazida pelos portugueses. Embora ainda não se tenha efetuado uma pesquisa em outras regiões onde estes festejos possam ocorrer, sabe-se que se estendem por Minas Gerais e, especialmente, no estado do Rio, havendo notícia de sua presença nos subúrbios do Rio de Janeiro. As Folias de Reis são encontradas no sul do Espírito Santo, em numerosos grupos, principalmente nos municípios de Muqui, Mimoso do Sul e Alegre. Eles geralmente se organizam nas fazendas de café e pecuária e muitos fazendeiros se orgulham das folias de seus empregados e colonos. Como as outras modalidades de reisados, brincam todos os sábados, de 6 de janeiro a 3 de fevereiro, dia de São Braz, quando termina o ciclo dos festejos natalinos. Numerosas são as Folias que se apresentam a partir do dia 6 de Janeiro em louvor aos Santos Reis Magos vindas das redondezas. A diferença com o Reis-de-Boi do norte do Espírito Santo e extremo sul da Bahia é que as Folias de Reis não têm o boi e a bicharada.

Em alguns lugares, os proprietários rurais proibiam tais manifestações da alma popular e em alguns municípios o Delegado não deixava as Folias saírem para não enfeiar o aspecto citadino da sua região. Mas Muqui queria abraçar aquilo que a imaginação da crença pinta com sangue, os Encontros de Palhaços e as Brigas de Folias, com seus desafios e confrontos, no meio da maior confraternização. Dr. Dirceu Cardoso, apaixonado pelas Folias, instituiu oficialmente o dia do Encontro das Folias, em 1950, quando assinou a Lei decretando o Dia de Reis feriado na cidade, marcando em Muqui o primeiro grande Torneio das Folias para o ano de 1952. Seria formada uma comissão julgadora nomeada pelo Prefeito, onde cada Folia se apresentaria pelo prazo mínimo de 10 minutos.

Em 1950 e 1951 apenas reuniu as Folias locais, premiando pessoalmente os Mestres com cortes de tecido. Em 1951 contou com a presença da Folia dos Andes, com o Palhaço Chiquinho, encantando a todos com sua “Dança das Facas”, e com as Folias de Rio Claro e Boa Esperança. Em 1952 o Torneio foi muito mais animado, organizado e vibrante. A premiação foi oferecida por vários patrocinadores da cidade, o que atraiu muitas Folias, iniciando assim uma nova era do Folclore local. Em 1952 o Palhaço vencedor foi Chiquinho dos Andes, com sua “Dança Apanha Café” e a “Dança das Facas”. A Cia Antártica ofereceu cinco caixas de “caçula” para os participantes. Assim iniciaram-se os Torneios.

Cada grupo é formado por 11 elementos representando os apóstolos, 1 Mestre da folia, um tipo de líder espiritual e 2 Palhaços, que representam Herodes e os soldados que perseguiram o Menino Jesus. Procuram se esmerar sob seus disfarces com lindas e exóticas fantasias adornadas com pêlos, ossos e muito brilho. Usam cetim nas cores azul, verde, vermelho e amarelo, com chapéus e andores enfeitados com fitas e pedacinhos de espelho. Os Palhaços usam roupas de chitão com estampas coloridas, túnica de babados e máscaras com couro de cabra, tudo feito por eles mesmos.

A principal característica das Folias são as figuras dos Palhaços, com grotescas máscaras, saracoteando à frente dos foliões e, segundo o povo, "são os espiões de Herodes". As belas e estranhas, às vezes assustadoras, máscaras dos Palhaços chamam a atenção e por isso costumam ser alvo de fotografias por sua rica estranheza.

Além das violas, da sanfona e da voz em lamento, as conhecidas “toadas”, seguem um ritmo que foi adotado pelas escolas de samba. Ao som do bumbo, do surdo e do tarel e também do violão, usam pandeiros e triângulos, ritmando o dançar do Palhaço e também a tira dos desafios.

Os grupos desfilam em procissão pela cidade e, um a um, dirigem-se enfileirados para a bênção na Matriz, exclusivamente reservada para receber as equipes das Folias, acompanhados pelo povo, visitantes e turistas encantados com tanta originalidade. Porém os Palhaços não podem entrar na igreja, pois representam o mal, daí ficarem do lado de fora na hora da bênção enquanto são bombardeados pelos flashes das máquinas fotográficas dos espectadores.

Algumas famílias locais são pré-determinadas para receber cada uma destas folias após a bênção na igreja, colocando em sua porta uma bandeira e servindo cada qual um gostoso lanche para o grupo que hospeda, durante o qual os Palhaços fazem demonstrações, cantam e recitam, esperando uma pequena recompensa. Quanto mais o Palhaço pretende ganhar um dinheirinho, mais ele canta, dança, recita e faz piruetas.

O Encontro de 1953, como os anteriores, foi nos campos do Colégio, onde 1500 pessoas assistiram ao espetáculo. Em 1º lugar ganhou a Folia da Floresta, do Mestre Aurelino Alves, e o Palhaço Campeão foi Francisco Xavier com sua “Dança sobre o Vidro”.
Em 1954, Frei Gastão continuou oferecendo o campo de esportes do Colégio para o 3º. Torneio de Folias. O 1º. prêmio chamou-se “Dr. Guilherme Santos Neves” e foi de Cr$ 1.200,00. O segundo chamou-se “Comissão Estadual de Folclore” e o terceiro, “Colégio de Muqui”. Para o melhor palhaço, o prêmio foi o “Girondina”.

O Presidente da Comissão de Folclore instituiu um Prêmio de Cr$ 2.000,00 (divisível ou não a critério da organização) para as competições de 1955 em reconhecimento aos folguedos de cunho nitidamente folclórico que Muqui vinha realizando desde 1951. Participaram 9 folias, 17 palhaços, totalizando 150 integrantes. A Folia do Mestre Joaquim, de Santo Eduardo, Rio de Janeiro, que veio a ganhar o 1º lugar, chegou de trem de carreira. Foram gravados seu canto (conforme as profecias) e as cantigas principais e logo em seguida tocados pelo serviço de alto-falantes, para emoção dos participantes. Das exibições dos palhaços, destacou-se em 1º lugar Francisco Xavier, da Folia de Malabar, com sua “Dança sobre o Vidro” e “Dança dos Punhais”. Aos outros palhaços foram distribuídas somas em dinheiro. A comissão de Folclore levou duas máscaras de Palhaço para o Museu do Folclore (“O Município” 16/01/55). Este foi o último torneio apresentado de dia, os próximos ocorreriam à noite.

Assim, em 1956 o 5º Encontro iniciou-se às 19h e terminou a 1 h da manhã, contando com a presença do folclorista francês Marcel Gautherot, que estava em Recife e soube do evento. Viajou então de avião para Vitória e depois para Muqui e, além de elogiar o evento como o mais organizado que já vira, levou uma máscara do Palhaço Chiquinho, da Folia dos Andes para o Museu do Homem em Paris. Em 1º lugar ficaram empatadas as Folias dos Andes, Santa Rita, Lagoa Dourada, Santa Marta e Santa Clara. Os palhaços encantaram com as exibições “Dança dos Punhais”, “Serra-Serra”, “Roda de Carros” e “Três é Muito”. No encerramento da “Dança dos Punhais” os malabarismos do palhaço prenderam a atenção de todos. Ao final da “Dança das Facas”, o Palhaço impressionou o público quando cortou seu próprio topete num gesto rápido de precisão.

Há alguns "causos" que contam os moradores. O mais terrível foi o contado por Nelson Guiotto, em seu livro "O Sonhador". Há muitos anos, 12 foliões cantavam de casa em casa, cumprindo sua missão (contar a vida de Jesus através das letras de suas músicas, conforme a tradição) quando foram surpreendidos por um grande horror na Fazenda Santana, em Marapé, divisa com Orange. Pararam em frente à fazenda com suas violas afinadas e para avisar que se aproximavam o Palhaço deu uma gargalhada. O proprietário desagradado soltou os cães que saíram à caça dos participantes. O mais perseguido foi o Palhaço por estar com a Máscara do Demônio. Correu em disparada, mas ficou preso à cerca de arame farpado. Os companheiros afugentaram os cães, mas era tarde demais. O assassino ficou solto. Puseram a culpa nos cães. Dizem que às vezes a jaqueira da lagoa fica mal-assombrada no cair da tarde, na hora da Ave-Maria, pois alguns dizem ainda ouvir a gargalhada do pobre palhaço.

Outro "causo" foi contado pelo Mestre José Inácio, da Folia Estrela da Paz, este por sua vez de final feliz. Diferentemente do incidente acima, uma vez se aproximaram de uma fazenda onde o cachorro amarrado latira incessantemente à aproximação dos Foliões, em razão da chegada de tantas estranhas figuras ao pedaço. Acontece que ao começarem as toadas e as cantigas, o cão como por milagre começou a devolver o seu latido no ritmo das canções, como se respondesse em eco às orações. Outro cãozinho em outro relato também agitou-se à aproximação dos Foliões, mas assim que as cantigas soaram dos instrumentos na sua cadência típica deitou-se todo espichado de olhos fechados com o rabo em riste marcando o ritmo em um alegre tic-tac.

Parte da Programação do dia resume-se em: Chegada das Folias com café da manhã; Reunião com os Mestres; Almoço de Confraternização; Marcha das Folias; Benção dos Instrumentos; Caminhada para a Mangedoura (cantoria nas casas hospedeiras, acompanhada de lanche) e Entrega dos troféus e gratificações durante um congraçamento cheio de luz, música e alegria na Praça Geraldo Viana à noite. Ali os Foliões, os mestres, os Palhaços, as Bandeiras e os violeiros e os sanfoneiros têm oportunidade de se apresentar para o fervoroso público que a tudo assiste com encantamento, num espetáculo de cor e brilho inexplicável.

Muqui promove hoje este grande Encontro Anual de Folias , arregimentando mais de 90 grupos de várias procedências. As Folias ainda ativas são localizadas e cadastradas nos seus lugares de origem e, mesmo com as dificuldades da vida moderna, a crença popular fala mais alto e eles querem participar. Já são 57 anos de Folguedos. Conforme a opinião de especialistas, este evento é o mais antigo e hoje em dia o maior Encontro Folclórico do Brasil e que cresce a cada ano em razão das parcerias entre a Prefeitura Municipal e outros Órgãos Públicos. É uma manifestação popular das mais impressionantes já vistas e embora estejam espalhadas por todo território nacional é Muqui que vem sediando este folguedo mágico com tanta pompa e beleza.

Este ano a Marcha das Folias apresentou lindas bandeiras e inúmera variedade de chapéus dos grupos, além de belíssimas e originais máscaras de Palhaços (vide Galeria de Fotos). Considerando o aspecto turístico, Muqui recebe milhares de visitantes e fotógrafos, jornalistas e turistas de todas as partes, gerando renda especial para o Município. Dr. Dirceu antes de morrer pediu que seu enterro fosse acompanhado por uma Folia e, em 2003, à sua morte, seu pedido foi realizado. Todos os anos depois disso, suas filhas ou o guardião de sua casa, Magno, ainda abrem as portas para receber uma Folia em sua memória.

Viva o Menino Jesus! Viva!
Viva José e Maria! Viva!
Viva os três Reis d’Oriente! Viva!
Viva a Sagrada Família! Viva!
Viva os donos da casa! Viva!
Viva toda a Companhia! Viva!
(Pedido de Licença para a entrada da Folia de Reis)

Pra Belém partiu Maria
Na pobreza, mas donzela.
Ela veio trazer ao mundo
Essa doutrina tão bela.
Viva Menino Jesus!
Viva José e Maria!
Viva os três Reis do Oriente!
Viva a Sagrada Família!
Pastorinhas do deserto,
Vamos nós saudar Maria!
Ela enche o céu de glória,
Nossas almas de alegria.
Entre, pastor, entre!
Vamos todos pra Belém,
Visitar o Deus-Menino
Maria e José também!

(Hino de Nascimento. Pedido de Licença para a entrada da Folia de Reis)

Aqui segue um apanhado da pesquisa de Ivanildo Lubarino Piccoli dos Santos, SP, sobre FOLIAS DE REIS E
OUTROS FOLGUEDOS:

“O termo “folia” foi criado para dar nome às organizações que saem às ruas para pedir contribuições para a festa
do santo no seu dia: são os bandos precatórios. Possui duas características básicas: uma bandeira e um conjunto
musical, que acompanham os foliões em suas andanças.

As denominações mais comuns deste folguedo e suas variações são Folia de Reis, Bando de Reis, Boi de Reis,
Companhia de Pastores, Companhia de Reis, Folia dos Santos Reis, Reis, Reis de Boi, Reis de Careta, Reisado,
Reiseiro, Reses, Santos Reis, Terno de Reis, Tiração de Reis e Tiradores de Reis.

“Folia” é associada à bagunça, farra, baderna. Mario de Andrade registrou no seu Dicionário Musical Brasileiro, que
as folias foram utilizadas pela Igreja como forma de atrair seus fiéis para suas missas e festas.

Existem diversas folias presentes na cultura popular brasileira, ligadas ao universo religioso como Folia do
Divino Espírito Santo e a Folia do Momo, associadas às festividades carnavalescas. A Folia de Reis recebe este
acréscimo “de Reis” por referir-se à viagem dos três Reis Magos a Belém para adorar o menino Jesus e anunciar
seu nascimento.

Conhecida, em sua forma mais popular, como a Adoração dos Reis Magos, essa passagem da Escritura
Sagrada é fonte de inspiração para as mais variadas manifestações nas letras e nas artes, contribuindo para o
desenvolvimento de tradições populares as mais diversas.

Ao indagarem a Herodes onde estava o Salvador Jesus, Herodes convocou os escribas e os sacerdotes da Judéia,
para informar onde deveria nascer o Salvador. Assim, apareceu novamente a estrela-guia e os Reis Magos
partiram. Herodes pede, então, que na volta eles passem em seu palácio e avisem onde está a criança que nasceu.

Ao sentir-se ameaçado pela profecia, segundo a qual o Salvador seria o novo rei, ele mandou que matassem todas
as crianças até dois anos de idade, para que fosse garantido o seu governo. Após o contato com Jesus, os Reis
Magos, no caminho de volta, teriam, devido a um sonho, de desviar a rota, dadas as intenções de Herodes.

Assim o fizeram e neste caminho encontraram soldados (o número varia entre dois ou três), que Herodes havia
mandado para segui-los. Os soldados que estavam perdidos e desesperados por não cumprirem a ordem de matar
Jesus, pediram ajuda aos Reis. Gaspar sugeriu que trocassem suas fardas, ou melhor, que as modificassem,
rasgando-as, desfiando-as. Sugeriu também o uso de máscaras, para que não fossem reconhecidos. Eles o fizeram
e passaram, então, a anunciar o nascimento de Cristo (estes personagens deram origem aos palhaços da Folia de
Reis).

As manifestações populares do ciclo natalino eram comuns em toda a Europa cristã, em países como França,
Itália, Alemanha, Portugal, Espanha e Bélgica. Os figurinos e as máscaras, nesses cultos, estão registrados em
diversos documentos da igreja católica, quase sempre ligados às proibições. Algumas delas tinham elementos que
perduraram na Folia de Reis brasileira, como o cortejo, as músicas (em rimas idênticas), o peditório, as saudações
e permissões, as louvações à casa e aos moradores. Essa celebração acontece desde 6 de janeiro de 1336,

conforme registrado por Muratori (“Rerum Italic Scriptors”, Milan, 1728, t. XII, p. 1018).

As festividades de Reis foram introduzidas no Brasil pelos Jesuítas por volta de 1559, após a vinda do primeiro
Governador Geral, Tomé de Sousa (1503 - 1573 ou 1579), que trouxe esta tradição sob a forma de canto, dança
e encenação, no processo de catequese e ensino. O culto aos Reis Magos com sua folia esteve presente na
inauguração do forte em homenagem aos Reis, em 06 de janeiro de 1598, na cidade de Natal (RN).

Nuno Marques Pereira (1652-1728) registra a presença de Grupos de Reis peditórios na Bahia: “uma noite dos
Santos Reis saíram estes (homens) com vários instrumentos pelas portas dos moradores de uma vila cantando para
lhes darem os Reis em prêmio que uns lhes davam dinheiro e outros doces, frutas etc.”

Na medida em que os povoamentos expandiam-se, essas manifestações se ramificaram e se difundiram por todo o
território colonizado. Naturalmente, elas sofreram, gradativamente, a influência e a incorporação dos elementos da
cultura africana e indígena.

Estas folias são organizadas e realizadas por grupos denominados foliões (ou tripulação, comitiva, companhia ou
ainda bandeira), com objetivos religiosos (de fé, cumprir promessa), filantrópicos, ou atualmente, por resgate
cultural. Os foliões geralmente começam suas visitas às casas, na maior parte do Brasil, no dia 24 de dezembro e
finda em 6 de janeiro. Em Muqui não tem data certa para os encontro das folias.

A folia é composta por músicos, geralmente de formação popular e autodidatas. Os instrumentos são de confecção
caseira e artesanal, como tambores, reco-reco, flauta, rabecas, violas-caipira, sanfona, cavaquinhos, pandeiros e
triângulos. Além dos instrumentistas, fazem parte também, cantores que auxiliam nas perguntas e respostas em
versos. Os demais foliões, papéis geralmente designados às mulheres, são os de coro, que completam os finais das
falas ou fazem a repetição dos versos cantados.

A participação de pessoas da mesma família e de amigos nos Grupos de Reis é um fato de extrema importância
para entendermos a resistência das tradições, na medida em que fica mais fácil se organizar e preservar suas raízes
culturais, transmitidas de geração para geração, de pai para filho.

Percorrendo as casas, em forma de comitiva, são guiadas pela Bandeira (um estandarte geralmente confeccionada
de pano vermelho, com 80 x 80cm, na extremidade de um cabo de 1m de madeira), ornada com motivos religiosos
(santinhos e papel ou bordados), com espelhos, flores, medalhas, lantejoulas, cheia de fitinhas coloridas às quais
os fiéis tocam, beijam e fazem pedidos. No centro são bordadas ou desenhadas as imagens dos Reis Magos, da
Sagrada-Família ou cenas do nascimento de Jesus. Geralmente carregada pelas senhoras mais idosas, ou pelo
Alferes, bandeireiro ou bandeirista da folia.

A bandeira, historicamente, simboliza a solidariedade do grupo ligado a uma causa, uma idéia ou, mais
concretamente no caso a um santo. Deve estar sempre virada para o lado em que a folia deve seguir. Ela
caracteriza a crença dos devotos, que lhes acrescentam, com alfinetes, fotografias, bilhetes e dinheiro, em
cumprimento aos votos e promessas alcançadas.

Esta comitiva se desloca de casa em casa realizando visitas breves aos moradores e ao presépio da casa.
Algumas visitas são mais longas, quando são oferecidos jantares, almoços ou lanches, assinalando uma nova
perspectiva: maior intercâmbio entre os grupos locais e regionais, apresentações fora do período tradicional e,
consequentemente, maior participação dos moradores.

Essas festas de confraternização coletiva recebem diferentes denominações: Encontro de Folia de Reis, Festival
de Folias de Reis, Festa de Santos Reis, Chegada das Bandeiras, entre outros, e costumam reunir um grande
público. Os grupos participantes ganham troféus, certificados, visibilidade social e, algumas vezes, dinheiro. Alguns
pesquisadores admitem que essas festas sejam um dos principais instrumentos de preservação da tradição.

As bandeiras caminham no ritmo das “Marchas de Rua”. Elas seguem um percurso chamado de “giro” ou “jornada”.
Este nome é dado pelo fato de coincidir o ponto de partida com o de regresso. Muitas vezes, o percurso segue
também o trajeto do leste (Oriente) e termina a oeste (Belém) do caminho.

Cantam defronte às casas o “Pedido de Abrição” de porta, fazem a “Saudação” ao dono da casa. Assim que a
entrada é permitida, cantam “Jornadas dos Reis Magos” ou passagens da vida de Cristo, entrecortada sempre por
rezas e ladainhas, como é tradicional ocorrer nas novenas. Os participantes ficam sempre em pé e mantêm o ar de
louvor e consagração litúrgica. “

Todos os integrantes de cada folia usam chapéus iguais, inclusive o Mestre. Esta é uma característica
impressionantemente original. Faz parte integrante do “uniforme” da equipe. Se houver 90 folias em um encontro,
por ex., estarão ali 90 chapéus diferentes, em dezenas de integrantes, todos artesanalmente criados, um mais
enfeitado que o outro, nas mais variadas cores, formas e originalmente decorados com pedacinhos de espelho,
fitas, enfeites, miçangas, um espetáculo de brilho e cor. Haja imaginação! Nenhum se repete! (vide ao final da
galeria de fotos 40 fotos diferentes).

“Já os palhaços usam macacão ou calça e blusão de chita estampadas, às vezes cobertas por fitas, feitas de
retalhos de tecidos, geralmente bastante volumosos. Alguns usam macacão chamado de farda ou lagartixa (espécie
de pijama de chitão). Às vezes, usam uma gola estrelar onde se penduram guizos nas pontas. Os guizos também

são amarrados nos calcanhares, para anunciarem sua presença à distância.

Alguns palhaços acrescentam à sua indumentária uma capa, que segundo alguns registros, foi um presente dado
por Maria para os Reis como retribuição à visita. Neste mesmo contexto, a ele é permitido o falar popular, usar
expressões grosseiras, gírias, versos obscenos e expressões populares, que podem ser ditos claramente ou de
forma anedótica, metafórica e sarcástica. Falando das relações humanas como política, casamento, religiosidade,
o palhaço utiliza seu repertório, pedindo dinheiro para si e prendas para a Folia, como forma de recompensa do
prazer que propiciou à audiência.

Os palhaços utilizam porretes, também chamado de “palhaços-porrete”, que podem ser bastões, espadas de
madeira ou bexiga de animais cheia de ar. Estes bastões remetem a signos de poder, de sabedoria presentes, como
ocorrem em rituais performáticos de origem africana ou mesmo de ritos de culturas primitivas.

Eles usam máscaras confeccionadas, atualmente, com tecido, papelagem, papier marche, papelão ou,
tradicionalmente, com couro de animais de pequeno e médio portes como cabra e bode (no passado era comum
máscaras de pele de quati ou mesmo preguiça).

As máscaras, de caráter rude, podem apresentar não só o couro do animal, mas também seu pelo e, mesmo as de
tecido, são acrescidas com orelhas, dentes e narizes postiços, algumas vezes chifres, que somam a outros tantos
diversos enfeites, como fitas, paetês, purpurinas e pinturas.

Quase sempre apresentam barbas grandes, semelhantes ao estereótipo árabe, representando os soldados de
Herodes. É o Palhaço quem recolhe as ofertas, anuncia a chegada da bandeira nas casas, pergunta se o dono da
casa aceita a visita, descobre as ofertas escondidas, “quebra os atrapalhos”.

Nas Folias capixabas eles representam o satanás, daí se trajarem de vermelho, chapéu cônico, mascarados e o
inseparável relho. Não entram nas casas e locais onde tem imagens de santos, presépios ou cruzes. Já em Minas
Gerais, são os representantes de Herodes,

Esta personagem cômica faz versos engraçados, diverte e mexe com o povo e saracoteia, faz acrobacias, salta,
dança (alguns passos de frevo, umbigada, samba, imita o ritmo do momento). O palhaço é o responsável pelo
profano, pela dualidade do sagrado, pelo grotesco no rito sacro. Ele incorpora em seu comportamento um caráter
de deboche da própria vida, do mal, dos erros, da tentativa frustrada do homem de se imortalizar.

Finalizam a estada com o “Agradecimento” e as “Despedidas”. Após a saída “se a porta não foi aberta então saem
cantando em desagravo”.

O comportamento dos cômicos que integram as folias e folguedos e manifestações populares brasileiras como a
Folia de Reis, Pastoril Profano, Cavalo-marinho e Bumba-meu-boi, abrangendo suas variantes dramatúrgicas e
atitudes, revelou proximidades estruturais com o palhaço de circo, e também, em sua fonte comum: a commedia
dell’arte.

• A apresentação ocorre principalmente em espaços abertos, o que molda a espetacularidade em formas
simplificadas, traduzida nos poucos recursos cenográficos, de iluminação e exigindo sonoplastia musical, executada
por uma banda ou por seus próprios integrantes.

• As apresentações são sequenciais, de quadros organizados ou não, mas privilegiando o gosto do público no local.

• A improvisação, partindo do assunto (soggetto) a ser desenvolvido por um roteiro (canovaccio) de ações pré-
determinadas, acontecendo no momento de sua realização, sem exigir ensaios ou treinos, e completamente
influenciável pela plateia presente.

• O repertório pessoal (lazzi) do artista-brincante, adquirido pela vivência de anos de atuação com o mesmo
personagem, caracteriza-se, desta forma, por um repertório individual de textos, truques, gags, piadas, versos,
paródias e brincadeiras. Além da parte musical composta por canções, trovas e loas.

• A caracterização arquetípica dos personagens-tipos (máscaras), ora travestidos, ora utilizando-se de maquiagem
fortemente marcada (Mateus, Catirinas, Bastiões, alguns Velhos) ou, ainda, de máscaras (nariz nos palhaços e em
alguns Velhos, máscaras nos Palhaços da Folia de Reis, Cazumbás, Mestre Ambrósio entre outros).

• As miscigenações nacionais acrescentaram as danças dos índios (influência iniciada já no período colonial) às
folias, com ritmos e instrumentos dos africanos. Outra grande característica peculiar brasileira é o caráter profano,
anedótico e de escárnio, desempenhado pelos personagens cômicos, geralmente chamados de palhaços.”

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