Pedro Maia

Pedro Maia - jornal "A Tribuna" de 20/07/2002


 Na seção Cartas da edição de ontem, o leitor Orlando Luiz Cruz Dias convida os ex-alunos do tradicional Colégio de Muqui para a reunião anual que sempre ocorre no final de julho. Este ano a festa homenageia a turma de 1952, que comemora o Jubileu de Ouro. E recorda que foi o último ano que o Colégio foi comandado pelo bravo Dirceu Cardoso, que hoje, recolhido a merecido descanso, repousa em sua casa na mesma Muqui que sempre amou tanto. Pois nós também estudamos no Colégio de Muqui e completamos nosso Jubileu de Ouro em 2001.

 Lá estivemos nos idos de 1951, e lá fizemos nosso exame de admissão e fomos aprovados com louvor. Um tempo maravilhoso, que não volta mais! As gerações vindouras não conhecerão algo como o velho Colégio de Muqui, onde o pulso forte do então professor Dirceu domava adolescentes rebeldes com carinho e porrada. Nós, diversas vezes, sentimos a dureza daquele que foi talvez o maior educador do Estado do Espírito Santo, ao mesmo tempo em que nos enternecemos com sua oratória durante os períodos dos chamados "estudos forçados", quando reunia toda a turma do internato para palestras sobre a importância de passar de ano.

 Nas seções de "estudos forçados", à noite, após o jantar, o respeito era tanto que se podia ouvir mosca zumbindo no salão. Ele na frente, acomodado em sua mesa, ficava doutor Dirceu (como era tratado por todo mundo), apegado às suas leituras e de olho nos seus pupilos, entre os quais havia desde meninos do interior até filhos de gente rica, vindos de São Paulo e Rio. Na maioria, tudo capeta com cara de anjo... No tempo em que lá estivemos, conhecemos muita gente boa com a qual nos reencontramos no transcorrer da existência. Com alguns, mantemos bom relacionamento até hoje. Outros, vemos de longe. 

E ainda existem aqueles que nos deixam em dúvida se eram ou não colegas de outros tempos. A grande maioria seguiu seu rumo em outras plagas, mas na nossa memória estão sempre presentes. No internato do Colégio de Muqui de 1951 - três grandes pavilhões no alto de um morro, tendo ao lado a casa do diretor - funcionavam o salão de estudos, os dormitórios de menores, médios e maiores, a cozinha dirigida pela saudosa dona Vitalina, inventora de um tempero que nunca mais experimentamos, e o refeitório, além da rouparia. A colina era cercada de bambuzais, dava passagem para as então famosas grutas (do Boi, do Lago, da Pedra) onde a rapaziada se refugiava nas horas de folga ou quando conseguia burlar a vigilância do inspetor Nagib, um turco que era a segunda pessoa do Dr. Dirceu, ou dos "regentes", alunos mais velhos nomeados para vigiar os mais novos.

 Ah! E ao lado da casa do diretor ficava o internato das meninas, território implacavelmente proibido para nós, e a igreja, onde aos domingos todo mundo ia assistir à missa (fosse da religião que fosse) e namorar as alunas. Abaixo dessa elevação, que hoje já não existe, ficava o campo de futebol, a piscina, o ginásio de esportes, a quadra de basquete e o colégio propriamente dito, com suas salas de aula, gabinete, laboratórios, salão de canto orfeônico e secretaria. E também as duas cantinas: uma do "seu" Manoel Branco e a outra do Manoel Preto. No internato dos meninos, ninguém se conhecia pelo nome. Todo mundo tinha apelido, alguns curiosíssimos como Cavalo Baio, o nome do cara era Bayer, Brucutu, Foca (este, cobra no futebol) Fubá, que nadava como peixe, Caminhão Réo e até um Assassino, que ganhou este vulgo por ter aplicado umas giletadas em outro aluno. Hoje, Assassino é empresário de sucesso no ramo de hotelaria no litoral capixaba. 

E existiam também os irmãos que recebiam apelidos em grupo, como Bispo, Padre, Sacristão e Coroinha. Ou então Mineirão, Mineiro e Mineirinho. Nosso apelido era Campista, por termos vindo de Campos justamente no ano em que nossa família mudou-se para o Espírito Santo. Só anos depois ficamos sabendo que Campista era o nome de um desmunhecante boiola de Vitória, razão pela qual fomos gozados por muito tempo sem saber por quê. Que saudades daquele velho colégio! E que saudades daqueles tempos! Bons tempos...

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