Histórico do Colégio de Muqui

No início da década de 1930, as famílias abastadas de Muqui, nos áureos tempos do café, internavam seus filhos no Educandário de Pádua, na cidade de Santo Antônio de Pádua, no Estado do Rio de Janeiro, a 150 km de Muqui, em busca de melhor ensino.

No entanto, houve nesta cidade uma epidemia de febre tifóide que tirou a vida de um dos alunos muquienses, Sebastião, de 14 anos, filho de Colina e Álvaro Afonso Freitas Lima, sem que a família viesse imediatamente a tomar conhecimento em razão de parcos meios de comunicação da época.

Ao saberem do fato, os pais e os tios dirigiram-se aflitos para a cidade vizinha, quando o tio do rapaz, Innocêncio Constâncio da Silva , entusiasmado com o imponente colégio que visitara, naquele instante tomou o firme propósito de fundar em Muqui uma escola semelhante que viesse atender à população da sociedade muquiense, carente de um curso colegial, para o desenvolvimento cultural do município.

Innocêncio era agricultor em Muqui e comerciante de madeira em Colatina, além de prático em dentista e mineralogista. Era casado com Da. Anita. Como Innocêncio conhecia José Lavaquial Biosca , Diretor do Colégio de Pádua, juntamente com sua esposa Maria Lavaquial Biosca (que passou a diretora dois anos depois, vide foto na Galeria de diretores), convidou-o a juntos fundarem igual colégio em Muqui, considerando como local propício para a instalação deste educandário um prédio já construído ao pé da Pedra do Dragão, no Bairro da Boa Esperança, de propriedade de Ana Fraga, que havia sido projetado para ser a Santa Casa de Misericórdia de Muqui. O terreno e o prédio foram doados por seu marido, João Vieira da Fraga.

Da. Sinhana, como a chamavam, que se interessava por medicina e era conhecida por todos por suas receitas caseiras de ervas medicinais, construíra o prédio no alto da Boa Esperança, com ajuda do seu marido, contando com a promessa do Governo de providenciar o equipamento hospitalar conforme anteriormente combinado, porém muito tempo se passou sem que o Governo cumprisse o acordo, resultando na inércia do enorme prédio que não atingira sua proposta inicial.

Em razão de esta eventualidade, formou-se uma comissão que então procurou Avides Fraga, importante político local, a fim de que intercedesse junto à Ana Fraga, sua mãe, para pleitear a posse da edificação ao novo projeto educacional. Da. Ana concordou, estabelecendo que o Colégio deveria funcionar gratuitamente por 3 anos, em troca das melhorias feitas, sob a condição de que fossem doadas a ela dez matrículas anuais para alunos menos favorecidos e de que fosse paga uma mensalidade à Santa Casa de Cachoeiro de Itapemirim, no valor de cerca de Cr$ 300,00 (trezentos cruzeiros antigos), mantendo-se a gratuidade das bolsas de estudo. O Colégio funcionaria como sucursal do Gymnasio Municipal de Pádua.

Com o apoio do Prefeito Cristiano Lopes Rezende, gestão 1932/1935, e de outras personalidades da época, depois de várias reuniões na residência de Albino Montes, na presença de Nenê Cúrcio, Walter Macedo, Sebastião Tâmara, Guilherme Cirillo, Ernani Monteiro de Castro e outros, surgiu uma comissão que angariou fundos para a reforma. O prédio de dois andares de paredes sólidas e janelões coloniais, em forma de U, precisava ainda ser terminado e adaptado. A obra foi orçada em 38 contos de réis (moeda da época) que representava uma enorme quantia.

Numa colina próxima, existia uma construção colonial, erguida em fevereiro de 1927, onde funcionara um convento de freiras junto ao internato Colégio Paroquial Don Fernando de Souza Monteiro , dirigido pela Irmã Paulina, contíguo à Capela de São José (único prédio que ainda sobrevive no local), cujo terreno havia sido doado por Pedro Vieira de Abreu, que, por naquele momento encontrar-se desocupado, foram ali administradas em caráter provisório as primeiras aulas do ano letivo de 1933.

Em 8 de julho de 1933 após o término da reforma, o prédio principal foi oficialmente inaugurado, tendo sido o Ginásio reconhecido pelo Governo. A chave da porta principal foi entregue em nome da população por Guilherme Cirillo a Aníbal Perlingeiro, primeiro diretor do educandário, pedindo em oração congratulatória à primeira-dama, Da. Maria Madureira Rezende, que se dignasse a dar a primeira volta e, de par em par, abrisse as portas do Educandário.

O ato na máxima solenidade foi presidido pelo então Prefeito Municipal, Cristiano Rezende, assistido pelo Diretor Geral dos Ginásios de Pádua e de Muquy, do Prof. José Lavaquial Biosca, na presença dos professores do Grupo Escolar de Muqui e na dos professores de Pádua, convidados a darem aula em Muqui: Profa. Maria Conceição Barros de Monteiro Perlingeiro, Profas. Maria Odete de Araújo Braz e Clélia Rodrigues Perlingeiro, Profs. Freycinet Perissé, Paulo Rezende Portugal e da representação do Ginásio Oficial de Pádua, do seu corpo docente e discente, representado por uma comissão de 5 alunos do 5º. Ano (cujos nomes estão ilegíveis no corpo da ata, mas foram recuperados através da lista de formandos do 5º. ano: Auto de Oliveira Pinto, Augusto Cid de Melo Perissé, Leman Decnop, Wilson Bucker Aguiar e Jorge Velasco). 

Houve Missa de Ação de Graças e laudação do Revmo. Pe. João Telle, visita oficial ao Paço Municipal e oração dita pela aluna do 3º. ano ginasial, Haydée Affonso, pelo Dr. Cristiano de Rezende e pelo Prof. Lavaquial Biosca. Depois disso seguiram em visita ao Grupo Escolar Marcondes de Souza.

O ano letivo, ao meio do ano, terminou já na nova edificação. Recebeu oficialmente o nome de Gymnasio Municipal de Muquy e neste mesmo dia foi reconhecido como de Utilidade Pública pelo Decreto No. 79 sob grandes comemorações (cartório: Registro de Sociedades Civis, 1º. Ofício, Registro No. 45, L-A, fls. 76-77).

O Colégio começou administrando o Curso Ginasial, com a duração de 5 anos, reconhecido desde então. O Curso Normal (formação de professores), com a duração de 4 anos, foi reconhecido mais tarde em 1935 oficializando o nome Gymnasio Municipal e Escola Normal de Muquy. A primeira sub-diretora da Escola Normal foi Maria Conceição M. Perlingeiro e, a secretária, Ausônia R. Perlingeiro.

Como mencionado acima, o Prof. Aníbal Perlingeiro foi diretor e também professor de Português (formado em Engenharia pela Escola de Engenharia Juiz de Fora em 1916), mas que não agradava muito as alunas, pois dava aula de cabeça baixa, lendo as linhas numa cadência silenciosa, levando as sete alunas da classe a provocarem brincadeirinhas de mau gosto, resultando na necessidade de a contratação de outro diretor para tentar domá-las.

Jurandy Martins, uma das primeiras alunas - juntamente com Maria Bruzzi, Geny Cúrcio e Eglina - executou a ideia que tiveram juntas de colocar goma arábica (cola) na cadeira do mestre, fazendo com que ele mandasse Jurandy para fora da classe ao se ver preso à cadeira em tal situação vexatória. No entanto, as sete disseram em uníssono que se uma saísse todas sairiam, enfrentando o pobre mestre. Inventaram numa outra vez de colocar um gato enorme dentro da maleta do Prof. Freycinet Perissé, de Inglês, levando a diretoria a repreendê-las severamente, mas como sempre sem sucesso. Ninguém conseguia reprimi-las, portanto mais um diretor foi chamado para tentar dirigi-las, após quase dois anos de desobediências.

Então, em 1935 , Dr. Dirceu Cardoso , um jovem advogado de 22 anos, natural de Miracema, Estado do Rio de Janeiro, foi indicado em Pádua ao Sr. Innocêncio por José Lavaquial Biosca, a fim de que assumisse a direção do Colégio em Muqui, passando a proprietário e mantenedor, junto a Innocêncio Constâncio da Silva.

Foi quando as alunas serelepes do Colégio, achando-se indomadas eternamente, viram um jovem rapaz, desconhecido, bem-vestido passeando durante o dia pela cidade e começaram a flertar com ele, fazendo elogios à sua elegância. Qual não foi sua surpresa quando durante a aula a porta abriu-se para que o novo diretor fosse apresentado e adentrou seriamente o jovem rapaz com quem tinham flertado, enrubescendo-as pela ousadia anterior.

Geny Cúrcio, aluna desta primeira turma, conta que ele, com cara de poucos amigos, sem falar bom dia ou boa tarde, disse num rompante só: “Senhoras, donas moças. Quero 3 cadernos. Um para a aula, um para passar os pontos a limpo e outro para as provas. Se eu falar “Prova”, quero só o caderno de Prova sobre a carteira. Quem não trouxer o caderno de Prova já pode saber que tirou zero e não precisa ser avisada de que é para se retirar da sala. Quando passar entre as carteiras, na ida faço uma pergunta e na volta já faço outra, quem não responder não terá mais tempo de fazê-lo. Estamos avisados!”
E o silêncio e a obediência finalmente se fizeram a partir deste dia!

Jovem e idealista, Dr. Dirceu levou o nome do Colégio a ultrapassar as fronteiras do Estado. A fama foi crescendo e o Colégio solidificando-se como uma instituição de Ensino primoroso, de rigorosa disciplina e muito voltada aos esportes. Eram avisados todos os interessados que a matrícula gratuita só poderia ser concedida a alunos que demonstrassem aproveitamento durante o ano letivo e, de acordo com a lei interna, não seriam concedidas matrículas aos alunos reprovados.

Dr. Dirceu convidou o Prof. Abdala, também morador de Miracema, para dar aulas em Muqui. O Prof. aceitou e mudou-se com a família, ficando por muitos anos. Dirceu montou sua equipe de professores. Já eram contratados os irmãos Perlingeiro. O Prof. Freycinet Perissé, de Inglês, também já era da escola. Abrindo-se um parêntese, os antepassados de Freycinet nasceram em uma pequena vila ao sul da França. Imigraram inicialmente para a América do Sul e 15 anos depois se instalaram no Brasil onde abriram um curtume em Cantagalo, RJ, depois mudaram para Pádua, onde Freycinet se formou professor. Soube-se, anos mais tarde, que ficou totalmente cego por uma doença hereditária.

Uma parte menor do prédio do convento serviu de moradia ao Diretor do Colégio e a maior de internato feminino sempre sob a supervisão da esposa de Dr. Dirceu, Da. Lizete. A esposa do Sr. Innocêncio, Da. Anita , muito colaborou nestes tempos de internato, pois em razão de tantos alunos internos, o movimento na cozinha, nos refeitórios, na lavanderia era enorme e Da. Anita não media esforços para que tudo funcionasse em perfeita ordem.

Ao lado da residência do Diretor, ficava a farmácia e dois quartos que se destinavam para internar algum aluno que necessitava de atendimento médico mais urgente. Mais tarde, serviu de moradia aos padres agostinianos quando da venda do Colégio em 1953 e, os porões da moradia, de sede para o Tiro de Guerra 79, que ali se estabelecera desde janeiro de 1954 até dezembro de 1965 junto a uma pequena prisão para os soldados infratores.

Iniciaram em prédio próprio e dois alugados. No prédio principal foram instalados a sala da Diretoria, o refeitório, a cozinha, o primeiro dormitório feminino (antes era no casarão contíguo do antigo Colégio Paroquial Don Fernando), o quartinho azul (famoso quartinho para castigos), as salas de aulas, sendo que as de História Natural, de Física e Química eram totalmente aparelhadas, na disposição de anfiteatro, para que os alunos assistissem aos procedimentos, como numa arena, com material sofisticado e peças de precisão.

Iniciou-se um sistema de internato masculino e feminino que, além dos alunos externos, chegou a abrigar 380 alunos internos, com o tempo fazendo-se necessária a construção de novos pavilhões, como mais dois prédios-dormitórios, lavanderia, tipografia, carpintaria, Banco escolar, sistema de alto-falantes e speaker (DJ), enfermaria, etc. Na Capela de São José ao lado do antigo convento celebravam-se cultos para os alunos católicos.

Em poucos anos, lá estavam matriculados 140 alunos internos, 19 alunas internas, 68 alunos externos e 77 alunas externas matriculados, e os 140 internos logo passaram a 160 e assim por diante até cerca de 400 alunos internos. Os grupos vindos de uma mesma cidade eram chamados de Colônias e uma das maiores Colônias era a dos alunos oriundos da cidade do Rio de Janeiro, além de muitas outras do Estado e de Minas Gerais. Só seriam consideradas Colônias, grupos de mais de quatro alunos procedentes da mesma cidade.

Os cursos administrados eram Primário, Admissão ao Ginásio, Ginásio, Normal e Científico. Em 1942, a reforma que ficou conhecida como Reforma Capanema deu nova organização ao Ensino Secundário, criando o ginásio de quatro anos e os cursos clássico e científico de três anos. Em 1944 foi fundado no Colégio o Curso Comercial de Técnico em Contador (Contabilidade).

As matérias administradas eram Português, Matemática, História do Brasil, História Geral, História Natural, Física, Química, Francês, Inglês, Espanhol, Latim, Música e Educação Física. Nas aulas de Canto Orfeônico cantavam-se músicas clássicas e hinos em Português e Francês. Administravam-se Cursos de Férias para alunos em recuperação.

No começo, havia horta e galinheiro, mas não havia jardim nem pomar. O refeitório tinha 240m⊃2;, piso de ladrilhos e paredes de tijolos, 10 mesas e cadeiras para 16 alunos por mesa. O pé-direito era de 4,50m como todas as casas antigas. A copa tinha 20m⊃2; com uma pequena geladeira para carne e leite e 3 bebedouros de água filtrada, moringas e copos. As pias da cozinha eram servidas por torneiras de água quente. A despensa tinha 30m⊃2; onde ficavam os estoques de arroz, feijão e batatas.

A cozinha de 40m⊃2; continha 3 fogões Econômico e coleta de lixo. Os banheiros eram servidos por 9 lavatórios individuais e 2 coletivos, por 11 vasos sanitários, 6 individuais e 1 coletivo, 9 chuveiros de água fria e 2 de água quente, 2 banheiras e 3 bidês. A piscina tinha 50m x 15m de água corrente natural. Os dormitórios tinham 10 salas, com 160 camas-patente, distantes umas das outras 0,50cm, assoalho de madeira, paredes de tijolos, pé-direito alto e 50 janelas. Cada aluno trazia sua roupa de cama.

Uma nova enfermaria foi construída no segundo pavimento dos dormitórios, com capacidade para 10 leitos, e atendida por um enfermeiro profissional, de branco impecável, que permanecia de plantão morando em um pequeno apartamento ao lado da nova sala de atendimento. Era tão bem equipada que os médicos que ali compareciam comparavam-na a um pequeno hospital por suas completas instalações, com maca, cadeira de rodas, balança, armários, medicamentos, etc.
Atrás deste prédio, Dr. Dirceu montou uma Carpintaria completa que servia o complexo, assumida por Ângelo Trenti. Construiu também pequenas casas para funcionários casados sendo que os solteiros moravam na cidade. Felipe Marques doou várias terras ao redor do prédio principal para ampliar as instalações do Colégio. A cozinheira era Vitalina, conhecida e amada por todos, seus ajudantes eram Nelson, João Gordo, Cypriano e Oswaldo (que passava manteiga no pão).

O cardápio semanal era dividido em 4 refeições diárias, sendo o café da manhã às 7:00h, quando eram servidos uma tigelinha de leite, pão branco e manteiga. No almoço, às 10:40h, arroz, feijão, bife de carne de vaca (ou almôndegas), alface, angu, repolho cozido, 2 laranjas. Na merenda (lanche) às 14:50h, serviam uma tigelinha de café com leite, pão e manteiga. No jantar, às 17:40h, arroz, feijão mulatinho, inhame ensopado (ou merche = charuto de repolho), couve, farofa de ovo e banana (ou mamão ou bananada e queijo).  Variavam os legumes, verduras e frutas (beterraba, tomate, mandioca, agrião, taioba, maxixe, cará ou cenouras). O consumo diário de leite era de 70 litros, o consumo semanal de ovos era de 20 dúzias, 10 kg de manteiga e 6 queijos.

O enxoval que se fazia necessário para os meninos internos era: 3 camisas e 3 calças cáqui, 6 pares de meia, 1 calça preta, 1 calça branca para paradas, 2 pijamas, 2 lençóis, 2 colchas, 2 fronhas brancas, 1 travesseiro, 1 cobertor, 2 sacos para roupa usada, 2 toalhas de banho, 2 toalhas de rosto, 1 uniforme de ginástica, 6 lenços, 1 bauzinho ou maleta para guardar objetos pessoais, 1 par de chinelos, 2 pares de botina preta, 1 par de tênis, 1 calção para natação, 1 pasta para livros, escova, pasta de dente, pente. Aos meninos era exigido o corte de cabelo "à la Príncipe Danilo", curto e raspado ao redor da nuca.

Para as alunas internas: 1 saia de casimira azul para sair, 2 de tecido inferior, 6 blusas brancas para gravata, 6 blusas de manga curta, 3 lençóis, 3 toalhas de banho, 3 toalhas de rosto, 3 colchas e 3 fronhas brancas, 1 travesseiro e 1 cobertor, 2 peignoirs de tecido inferior, 12 calcinhas, 6 pares de meia preta, 6 combinações, 6 lenços, 2 pares de sapato, 1 par de tênis, 1 par de chinelo, 1 guarda-chuva, 1 paletó azul-marinho, 1 bombacho para ginástica, 2 gravatas pretas, miudezas de uso diário, 1 saia branca para paradas e 1 par de galochas. Às meninas exigiam-se boinas e, como uniforme de gala, saia bordô e camisa de palha de seda.

O Grêmio Litterário e Recreativo "Euclydes da Cunha" era uma das glórias do Colégio, foi fundado em 14 de abril de 1935 pelo Dr. Dirceu Cardoso, convocados pelo Prof. José Victorino, quando se realizou a primeira Sessão do Grêmio, na presença do diretor Dirceu Cardoso, Pe. João Telle, representante do Grupo Escolar Marcondes de Souza, do Grêmio Literário Rui Barbosa e do Centro Estudantil Capixaba de Vitória, professores, estudantes, familiares, convidados, etc.

Era uma honra ser eleito presidente do Grêmio onde muitas responsabilidades seriam assumidas, representando uma enorme escola de vida para os alunos merecidamente votados. Inicialmente era utilizada uma sala interna no corpo do colégio. O Presidente tornava-se responsável pela edição do jornal "O Grêmio", fundado em 1937 no 4º aniversário do Colégio, pelo Banco Escolar (onde os alunos depositavam suas economias e mesadas), o serviço de alto-falantes e speaker (DJ), as diretorias esportivas, a biblioteca, a sala de sessões, a tipografia, etc.

O Colégio era muito avançado para a época. Havia além de muito estudo, esportes, música e atividades no Grêmio, além de festas e bailes no salão-nobre nobre no corpo do prédio principal. Uma vez que os meninos só viam as meninas nas salas de aula, eram momentos muito esperados. Nos bailes a fiscalização era rigorosa, feita pelos chefes de disciplina e pelo diretor do Colégio, Dr. Dirceu, que também era professor de Biologia. A responsabilidade deles era muito grande perante os pais dos alunos. Ali tudo acontecia de maneira impecável, no Colégio mais afamado do Estado.
Em 8 de julho de 1937, no seu 4º. Aniversário, foi fundado o Jornal “O Grêmio”, sendo seu primeiro diretor, o Prof. João B. V. Bastos e redator-chefe, Mário A. da Silva. Foi instituída a medalha de ouro Euclides da Cunha, entregue pela primeira vez à Maria Agmar Henriques de Mendonça. Foi também instituído o concurso para eleger a primeira Rainha dos Estudantes.

Em 1937 foi criado o Concurso para eleger a Rainha dos Estudantes. Apenas a primeira Rainha, Maria Dília Brandão, foi escolhida através de votos vendidos. Já a partir da segunda, Lisete Afonso da Silva, em 1938, todas foram coroadas através das melhores notas dos seus eleitores, convertidas em cédulas, sendo que notas 10 valiam 5 votos, notas 9, 4 votos e assim por diante, recurso esse que intencionava incentivar o melhor aproveitamento em aula pelos alunos.

A Rainha era eleita perante a contagem dos votos sob a gritaria das torcidas. Era então agendada a data para o Baile da Coroação. A Rainha preparava-se com seu lindo vestido para ser o centro de atenções na noite tão sonhada. Eram emitidos convites para o Baile da Coroação. Um dos convites diz: “O Diretor do Ginásio Municipal de Muquy tem a súbita honra de convidar sua Excelência e sua Exma. Família para assistirem à solenidade da coroação de S.M. (sua majestade) a rainha dos estudantes de 1940, Srta. Ketty Cirillo, que será realizada no próximo dia 14 de novembro às 21h em o salão-nobre do estabelecimento, após o que se realizará um animado baile. Penhorado pela atenção de Va. Exa. e certo do seu comparecimento para maior brilhantismo da solenidade. At. Subscrevo-me Dr. Dirceu Cardoso. Notas: a) É expressamente proibida a entrada de creanças; b) aos rapazes que dançam, pede-se traje completo, c) às senhoras e senhoritas recomendam-se trajes de baile; d) o presente convite é pessoal e será exigido no ato da entrada. Muqui. ES- 1937”

As sessões do Grêmio, os bailes de formatura, a colação de grau e a coroação das rainhas aconteciam no salão-nobre que os próprios alunos providenciavam alegremente como posicionamento das cadeiras ao redor da pista de dança, limpeza, ornamentação, etc. Este local, além de seu ar festivo, era também temido na época dos terríveis exames escritos, pois ali eram aplicados na presença e fiscalização acirrada dos professores, inspetores federais e Diretores. Os exames orais ocorriam diante da banca de três examinadores quando os alunos sorteavam a matéria a ser respondida em saquinhos fechados ou em cumbucas.

Até 1942, chamou-se Ginásio Municipal de Muqui. Em julho de 1943, durante as comemorações de seu décimo aniversário, com grandes festejos, já possuíam um novo prédio novo para dormitório de rapazes. De 1943 a 1947 passou a chamar-se Colégio Municipal de Muqui. A secretária do Ginásio nesta época era Amélia Rodrigues. O médico responsável, Dr. Moacyr Henriques de Mendonça e o Inspetor Escolar, Dr. Fernando Castello Branco de Araújo.

Nos fins dos anos quarenta, foi montada a Praça Cívica, no centro do prédio principal, onde em datas comemorativas eram içadas bandeiras do Brasil e de nações americanas em 24 mastros, além de as do Colégio e do Estado, ao som da banda de tambores e do serviço de alto-falantes da " Rádio Interna ", que emitia músicas clássicas e óperas que soavam também nas horas de lazer. Ali no pátio, diariamente, cantava-se o Hino Nacional em posição de sentido, enfileirados como verdadeiras estátuas, sob pena de expulsão a qualquer pestanejar. Os uniformes, mesmo os de uso diário, eram minuciosamente examinados e deviam manter-se impecáveis sob pena de repreensão.

Nos dias cívicos, com seu pelotão de bandeiras e banda marcial, em uniformes de gala, o Colégio saía marchando em paradas rigorosamente ensaiadas pelas ruas da cidade. Os galhardetes de pelotão (comandantes) eram escolhidos entre os melhores alunos que traziam as melhores notas. Aos finais dos anos letivos, havia a esperada e emocionante despedida, quando os formandos saíam intercalando-se em filas, em direção contrária, dando as boas-vindas aos recém-chegados e suas madrinhas. Cada ginasiano introduzia um aluno do admissão e cada professoranda, um do curso primário. Os alunos internos serviam um grande café da manhã para os alunos externos convidados.

O horário de recolher era às 20:00h. O de levantar, às 6:00h. Os alunos internos tinham que fazer as camas, impecavelmente, como se passadas a ferro; dobrar o cobertor aos pés da cama; guardar seus pertences na mala debaixo da cama; num dia, mesmo no inverno, a tomar banho frio de chuveiro bem cedinho e, no outro, a sair para a ginástica obrigatória com direito a cair na piscina, momento mais esperado por todos. Os esportes sempre foram prioridade. Na década de 40 os professores de Educação Física eram Nicanor Alves dos Santos e Da. Jovita Nogueira.

No final do mês de agosto de 1950, o Conselho Desportivo Escolar, que elegera o Colégio de Muqui para promover e hospedar as primeiras Olimpíadas Escolares no interior do estado, instituiu a Taça “Avides Fraga” em homenagem ao grande muquiense, que tanto fez pela instrução do município, para premiar a equipe feminina vencedora das Olimpíadas Escolares de 1950. Dr. Dirceu teve seu esforço coroado duplamente com êxito, pois além de promover e ser sede do evento glorificou-se em ver a bandeira do Grêmio Euclides da Cunha sagrar-se campeã absoluta da Olimpíada.

Durante os preparativos para as Olimpíadas Escolares, que receberiam 44 delegações esportivas, Dr. Dirceu construiu um Ginásio coberto, com quadras poliesportivas. Mais tarde este prédio passou a ser usado pelo Grêmio e suas sessões, tanto quanto para aplicação dos exames, onde turmas sentavam-se intercaladas nas fileiras de carteiras com a finalidade de evitar-se a “cola” dos alunos, além de fortemente fiscalizados por professores e dois inspetores escolares. Este prédio hoje é tombado na esfera estadual e, após algumas restaurações, ainda é utilizado para administrar aulas, reuniões de ex-alunos e algumas cerimônias sociais.

Depois da hora do jantar dos internos, todas as noites, pelo sistema de alto-falantes transmitiam-se músicas, brincadeiras e recados. Depois da distração, Dr. Dirceu exigia e acompanhava uma sessão de "Estudos Forçados" onde fazia todos recapitularem as matérias e prepararem as lições de casa. Contudo nos domingos, Dr. Dirceu, sua família e seus alunos, de uniforme, desciam o íngreme das ladeiras até a praça para que todos pudessem passear, ir ao cinema, etc. sempre e somente sob a guarda do casal, Dr. Dirceu e Da. Lisete. Os pavilhões-dormitórios masculinos acolhiam alunos separados por idade, a fim de melhor ordem e controle.

Em frente à ladeira de acesso ao Colégio, tinha um pequeno bar cujos donos preparavam e vendiam um delicioso puxa-puxa (caramelo) adorado pelos alunos que frequentavam assiduamente o local, tornando-se amigos dos donos, Maneco e Maneca. As brincadeiras e artes aprontadas pelos alunos eram muitas, como não podia deixar de ser. Matavam aulas, iam passear escondido na Morubia pelas fazendas, roubando frutas pelo caminho, escondendo-se em cavernas pelo mato. Certa vez estava um grupo “fugido” passeando próximo à fazenda do Seu Bernardes. De repente viram o Dr. Dirceu, dirigindo o fordeco do Sr. Innocêncio voltando da Fazenda dos Andes, se aproximando e, apavorados, mergulharam imediatamente de cabeça janela a dentro, todos de uniforme, na tentativa de não serem pegos “matando aula”.

Uma destas alunas conta que hoje desconfia que Dr. Dirceu no fundo se divertia com o “medo” que tinham dele, porque no final acabou “fingido” não vê-los ali mergulhados com as pernas para fora das janelas. No entanto ele controlava a tudo e a todos. Todos o respeitavam até o último fio de cabelo. Certa vez algumas alunas da primeira turma de normalistas, escondidas, resolveram trancar-se na sala para vestir o esqueleto (de tamanho natural, usado para as aulas de Ciências, chamado por alguns de “Godofredo”) com seus próprios uniformes, despindo-se. De repente perceberam que Dr. Dirceu estava se aproximando e, desesperadas, tentaram se vestir antes que ele as pegasse naquela vexatória situação sem as roupas. Quando ele bateu à porta, uma das alunas não tinha conseguido vestir a saia a tempo e morrendo de medo segurou-a apenas dependurada à sua frente, escondendo as pernas, numa situação de pânico total. Dr. Dirceu ao entrar, percebendo o desespero das meninas, fingiu que não viu o que estavam fazendo, deixando-as aliviadas por não terem sido pegas e enviadas diretamente ao terrível quartinho azul.

Visando a boa formação dos alunos, os castigos variavam de ser expulso da classe ou das filas; de ficar de pé de rosto para a parede na sala do Diretor ou no quartinho azul, onde a camisa do aluno era forçadamente encostada na parede, para marcá-la de azul, mostrando a todos que havia estado de castigo; de escrever 100 ou 200 vezes a mesma frase; de subir e descer escadas sem parar de costas; de ser repreendido na frente de todos; de levar para casa, nas cadernetas, avisos das repreensões escritas de próprio punho pelo Dr. Dirceu a serem assinados pelos pais e de também segui-lo por toda parte, sempre de pé, durante o dia todo, acompanhando suas inúmeras atividades, inclusive na hora do almoço, mesmo quando se dirigia até a cidade, ao correio, ao banco, etc. castigo que todo mundo temia em receber.
 
As cadernetas deviam ser diariamente apresentadas na guarita (vulgo "gorita") do portão principal sob pena de não se assistirem às aulas. Elas traziam as "leis de bom comportamento" e "penalidades" tanto quanto as "recompensas" e "elogios" escritos um a um pelo próprio Dr. Dirceu. Nela vinham descritos todos os deveres e obrigações; regras e repreensões, além das esperadas notas mensais. Os pais ali recebiam as informações pedagógicas e corretivas e deviam assinar para dar ciência ao Diretor, mostrando sua co-participação ao que havia sido aplicado.
 
Por saberem de tal formação rigorosa, os pais de alunos problemáticos de várias regiões faziam questão de enviá-los para este Colégio, recomendando-os pessoalmente ao Dr. Dirceu que com sua alta capacidade educadora e rigidez transformava um a um fazendo deles grandes pessoas e eternos amigos. Um aluno conta que Dr. Dirceu perguntou a ele: - “O que você pretende seguir na vida?” E ele respondeu: “ - Médico, Dr. Dirceu.”, Dr. Dirceu disse com firmeza: “- Pois então você sairá daqui um médico... e dos bons!”
O primeiro aluno Presidente do Grêmio quando eleito pelos colegas, já que os dois presidentes anteriores foram professores, não quis assumir o cargo porque era gago. E Dr. Dirceu disse: “ Vai assumir, sim. Terá que honrar os alunos que votaram no senhor! “ Este aluno foi presidente por dois anos, perdeu a gagueira e anos mais tarde agradeceu a atitude do Diretor. Como teria conseguido discursar como político no futuro, como o foi? Enfrentar plateias? Talvez tivesse ficado gago para sempre!

De 1948 a 1952 passou a chamar-se Colégio de Muqui. Em princípios de março de 1953 o Colégio foi vendido para a Ordem dos Agostinianos Recoletos, pois Dr. Dirceu, vendo-se obrigado a seguir sua carreira política, mudando-se para Brasília ao ser eleito Deputado Federal, não encontrou alguém que pudesse assumir a direção evitando que tomasse esta decisão. Embora tenha sido Prefeito de Muqui de 1947 a 1950, passando a Deputado Estadual em 1951, Dr. Dirceu continuou dirigindo o Colégio até 1953, quando a Ordem Agostiniana assumiu a direção, adicionando aos objetivos estatutários “proporcionar à juventude uma educação integral de acordo com as leis do país sob os auspícios da Santa Igreja Católica Apostólica Romana”. Seus instituidores foram Frei Gastão Jacinto Gomes e Hugo Novaes.

Os padres deram continuidade às atividades esportivas e cívicas, mantendo a fama do Colégio em muitas paragens, haja vista a Olimpíada de Colatina em 1954. Do Colégio de Muqui saíram também importantes desportistas olímpicos, várias personalidades ilustres espalhadas por todo o Brasil, refletindo no coração todos instrução, patriotismo, civismo, respeito, integridade, amor ao passado e às tradições.

Em 1958, dia 16 de agosto, houve sessão do Grêmio em homenagem ao Dia dos Pais e abertura das festividades do “Jubileu de Prata” do colégio, sendo então presidente do Grêmio e também redator-responsável pelo Jornal, Roberto Paraíso Paixão.

Frei Lauro de Carvalho Borges foi diretor de 1956 a 1959, até que em 1960, sete anos depois de assumirem o Colégio, após muitas reformas e adaptações, por problemas para a boa manutenção do Educandário, em época de grande inadimplência, os Agostinianos venderam o Colégio para o Estado.

Inicialmenteficou sob a Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos, carregando este nome. Em 1961, foi criada a Fundação Avides Fraga, entidade mantenedora do Colégio, quando passou a chamar-se Colégio Carlos Lindenberg (em homenagem ao Governador do Estado do Espírito Santo de 1958). Em 1962 foi diretor, Edson Martins de Oliveira até 20 de maio de 1963.

Quando os professores dissidentes, discordantes politicamente, separaram-se e anexaram-se ao Colégio Monsenhor Elias Tomasi , de Mimoso do Sul, cidade vizinha, administrando as aulas no Grupo Escolar Marcondes de Souza em Muqui. Em novembro de 1963, passou a chamar-se Colégio Estadual de Muqui e Escola Normal Avides Fraga, instalado em 1964, carregando este nome até 1974.

Consta em nota no Jornal "O Município" de setembro de 1951, que existiu uma precursora da Associação dos Ex-alunos do Colégio de Muqui. Chamava-se Sociedade de Ex-Alunos de Muqui, S.E.M. , fundada em setembro de 1951 em Cachoeiro de Itapemirim, por Carlos Ferdinando Mignone, ex-aluno das primeiras turmas, a fim de que confraternizassem entre si e entre os alunos da época. O segundo presidente foi Nicolau Deps.

Depois de disputarem várias partidas esportistas com os alunos gremistas do Colégio no dia do Professor em outubro de 1951, houve Sessão do Grêmio cuja foto encontra-se na Galeria do Histórico da Associação e do Grêmio Euclides da Cunha. Até o momento não ouvimos mais notícias sobre esta Sociedade, mas vê-se claramente que foi a precursora da atual Associação dos Ex-alunos, 12 anos antes, com a mesma finalidade.

Outro fato notório foi o de um orador no encontro de 1955 que proferiu uma mensagem marcante: “A saudade genuína está retalhada em cada palavra como se fossem pedaços de coração!” quando Frei Gastão sugeriu aos alunos que fosse fundada uma Associação dos ex-alunos do Colégio de Muqui (matéria em “O Município” 4/12/1955).

Mais tarde, no desenrolar do ano letivo de 1964, por ideia que novamente nasceu desta feita na sala dos professores pelos Profs. Edson Martins de Oliveira, Erli Bueno Rodrigues, Maria Antonia Brito, Cyro Lethieri, Olinto e Gesy Berilli, Maria da Glória Lopes, e outros, os ex-alunos saudosos dos tempos vividos no Colégio passaram a voltar a Muqui, a fim de se encontrar pelo menos uma vez por ano, aos finais dos meses de novembro, no famoso "Dia da Saudade", para reviver as atividades dos velhos tempos, praticando esportes, usando a piscina, praticando jogos e competições, almoçando juntos e emocionando-se com as recordações. Mais tarde em 1974 quando os ex-alunos se depararam com nada no local, foi fundada a atual Associação dos Ex-alunos do Colégio de Muqui.

Em fins de 1972, começo de 1973, provavelmente por razões políticas, buscando apagar um passado inteiro de glórias do Colégio, as paredes grossas e sólidas do complexo principal sem nenhum sinal de deterioração começaram a ser demolidas a trator, a piscina aterrada e destruídos os campos de esportes, diante dos olhos de uma inteira população impotente e estarrecida.

No ano seguinte, em novembro de 1974, quando os ex-alunos se depararam com aquele vácuo no local, fundaram ao som do hino do Colégio a atual Associação dos Ex-alunos do Colégio de Muqui com o principal sentimento de não deixar morrer a chama do amor pelo colégio que marcou tanto a vida de todos que por ali passaram, mantendo os encontros mesmo que fosse para não ver nada. O que era físico se fora, mas o que ficara na alma de cada um jamais lhes seria roubado.

As aulas então foram administradas em caráter provisório nos prédios onde eram os dormitórios e no Grêmio, até que algo fosse feito, e de 1975 a 2006 o Colégio passou a chamar-se Escola Estadual de 1º e 2º. Graus Avides Fraga.

Em 1977, os três dormitórios foram também interditados e igualmente demolidos, enquanto as aulas passaram a ser administradas em vários locais da cidade. Sobre a antiga piscina ergueu-se o Colégio Polivalente, há alguns anos também interditado, saqueado, vazio e abandonado, depredado, em ruínas, sendo totalmente demolido em 2009 pelo Governo do Estado. No local foram construídos barracões provisórios para atender aos alunos em razão de o Colégio ter sido interditado pela Defesa Civil, enquanto aguardavam a construção de outra edificação em outro local.


Ouvindo o veredito de alguns moradores da época, foi dito que durante a demolição houve grande dificuldade de se colocar as edificações abaixo, pois apresentavam fundações de pedra e paredes muito largas e sólidas. Há várias estórias e lendas. Umas citam que foi necessária uma draga com bola de aço para demolir as grossas paredes, que a força criada pela resistência das paredes puxadas por uma máquina fazia com que a mesma patinasse sendo preciso amarrar outra poderosa máquina à primeira, para só assim colocar as paredes abaixo. Em razão disso foram consultados os controladores das máquinas ainda vivos que alegremente recordaram que desde 1949 havia chegado na cidade uma máquina Caterpillar não muito grande, uma patrolzinha, carinhosamente chamada por uns de "Marise" e por outros de "Perereca", de trem e, por ser de porte pequeno, uns seis homens reunidos, encabeçados pelo funcionário Domingos Ponte Celi, tiraram-na de dentro do vagão apenas com a força braçal. Seu condutor era o Carlito (vulgo Carlito Percevejo).

Dr. Dirceu, na sua gestão como prefeito, sem nunca poder imaginar que no futuro esta máquina serviria para derrubar os castelos que ele mesmo construíra tijolo a tijolo, adquiriu uma motoniveladora Catepillar, daquelas sobre pneus e lâminas, manobrada pelo Sr. Rock, também já falecido, com a qual demoliu o velho Ginásio, como era chamado, em 1973. Estes funcionários que participaram da demolição, ainda vivos, especialmente o Sr. José Felipe da Silva (Bilô) contou que ele mesmo junto a outros, como o Eleutério, começaram a destruição pelos banheiros, com talhadeiras e marretas de 5 kg. Depois retiraram as telhas e só então passaram para as paredes, que traziam ao chão junto consigo as tubulações de chumbo, usadas na época. Disseram que não foi fácil movê-las e tiveram que puxá-las com a máquina por cabos de aço longos amarrados de um janelão ao outro. Dizem que mais de uma máquina ajudou a Caterpillar a tirar e arrastar os alicerces e mesmo assim foram necessárias dezenas e dezenas de homens com picaretas, marretas e ponteiras para retirar as fundações, à mão, tamanha a profundidade e solidez da então construção colonial.

Foi como se presenciassem um gigante sendo morto e enterrado pela irreverência dos homens comuns. Enterrado porque estes homens que lá estiveram, como também o Sr. Aramis, contaram que muitas casas e muitas edificações foram erguidas sobre os vigamentos do Colégio que aterraram muitos atoleiros pela cidade. Disseram que as máquinas Catepillar e Huber-Warco foram arrastando resto de vigas desde lá de cima até às margens do Rio Muqui. Como, por ex., sob o prédio da Assembleia de Deus, na Rua das Palmeiras, onde frisaram que, em se cavando ali, certamente serão encontrados escombros sob o templo, tanto como em muitos outros locais da cidade, na Rua do Boi, ao redor da Boa Esperança, etc. O Colégio como podem ver foi solenemente enterrado debaixo de cada um de nós pelas ruas de Muqui.

Aproveitamos para fazer uma homenagem ao funcionário Sebastião Paulino que morreu ao cair uma viga sobre ele durante a demolição dos dormitórios. Bilô também disse que morava no depósito do Ginásio e tomava conta da piscina que ele mesmo ajudou a cavar na época do Dr. Dirceu. Contou que colocavam a terra sobre couro de boi para transportá-la de um lugar ao outro. Desta mesma forma cavaram os campos e a quadra de basquete, arrastando cada metro cúbico de terra. Luizinho era o condutor das máquinas na segunda etapa da demolição em 1977 e confirmou que foi utilizada a Caterpillar para pôr abaixo os três prédios durante um ou dois anos entre demolição e limpeza do terreno. Todo o equipamento, material de copa, cozinha, travessas, panelas, arquivos, móveis e tudo o mais de dentro do Colégio simplesmente desapareceu, apenas sendo encontrados objetos de laboratórios e algumas peças que Ketty e alguns colegas garimparam pelos escombros para expor no Museu que mais tarde foi fundado pelos ex-alunos (1983).

Existe uma Huber-Warco parada no galpão da Prefeitura que uns dizem ser a máquina utilizada na demolição, mas Luizinho negou, afirmando que ele mesmo ajudou a serrar a velha Huber-Warco para ser levada ao ferro-velho, tempos antes daquela que ali se encontra, que fora muitas vezes reformada antes de ser aposentada. Os prefeitos envolvidos nesta época foram o antecessor à demolição, João Lobato Fraga, até janeiro de 1973, quando tudo começou; Emanuel Britto a partir de fevereiro de 1973 e José Geraldo de Carvalho em 1977. Diz a crendice popular que depois disso parece imperar uma maldição, como se uma “caveira de burro ali tivesse sido enterrada”, pois nenhuma outra edificação erguida neste local permanece de pé, haja vista o que continuou se repetindo, o que poderá ser constatado a seguir.

Em 1981, outra edificação para a Escola Estadual "Avides Fraga" ficou pronta sobre o antigo local dos dormitórios e foi inaugurada pelo então Governador Dr. Eurico Rezende, porém em 1984 já foram necessárias reformas por problemas na construção. Os alunos novamente tiveram que ser transferidos para outros locais até o ano de 1986, quando retornaram ao prédio, porém novamente interditado em 2005 por diversas rachaduras após enormes chuvas e acomodação geológica da região.

No Diário Oficial de 16 de janeiro de 2006 consta que a Escola Estadual de 1º e 2º Graus Avides Fraga passa a chamar-se Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio "Senador Dirceu Cardoso" já na expectativa das futuras instalações, conforme projeto de Lei da deputada Luzia Toledo. A nova escola será resultante da união da escola de Ensino Fundamental e Médio Avides Fraga e da escola de Ensino Fundamental de Muqui (Polivalente ?), ambas fora de funcionamento, interditadas pela Defesa Civil.

O projeto tem por objetivo homenagear um dos maiores educadores da história do Espírito Santo, Dr. Dirceu Cardoso, reconhecendo seu magnífico trabalho na área da educação e seu papel como homem público do município de Muqui e do Espírito Santo. Chegou-se assim à construção de um grande Colégio, à entrada da cidade ao final da estrada que liga Muqui a Cachoeiro, que já está a todo vapor, praticamente pronto, erguido para benefício da comunidade muquiense, além de eternizar nesta nova obra o antigo Educandário, o Colégio de Muqui, objeto deste histórico.

O governador Paulo Hartung visitou as obras de construção da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Senador Dirceu Cardoso, em Muqui, em 21 de outubro de 2010. As visitas técnicas foram acompanhadas pelos secretários de Educação, Haroldo Corrêa Rocha, e de Transportes e Obras Públicas, Neivaldo Bragato, e por autoridades dos dois municípios.

Estão sendo investidos aproximadamente R$ 4,6 milhões e a obra está prevista para ser entregue em fevereiro de 2011. A estrutura está sendo construída dentro dos padrões Nova Escola, adotado pela Secretaria de Estado da Educação (Sedu), para a melhoria da qualidade do ensino. A escola contará com o bloco pedagógico, com a construção de 12 salas de aula, coordenação, biblioteca, um (01) laboratório de Informática, um (01) laboratório de Ciências, sala multiuso e a construção da quadra poliesportiva coberta, com vestiários.

O prédio escolar tem capacidade para atender 1.440 alunos, divididos em três turnos. Além de atender aos alunos do Ensino Fundamental e Médio com o ensino regular, a escola também oferecerá o programa Mais Tempo na Escola e o projeto Escola Aberta. 

O Plano Estratégico Nova Escola foi lançado em março de 2008 e garante aos estudantes, entre outros itens, um prédio bem estruturado, com sala de Informática, biblioteca, quadra poliesportiva com material esportivo, laboratórios, entre outros espaços essenciais para garantir o bom aprendizado das crianças e jovens capixabas. O documento evidencia uma agenda de projetos e ações prioritárias até 2011.

O programa Mais Tempo na Escola visa a ampliar o tempo de permanência do aluno na escola, criando novas oportunidades de aprendizagem e a contribuição para a melhoria do desempenho escolar e ampliação do universo de experiências socioculturais, esportivas e de iniciação científica. O tempo de permanência do aluno na unidade de ensino é definido com a participação e aprovação da comunidade escolar, por meio do Conselho de Escola. Os professores também podem optar pela ampliação de sua carga horária remunerada de trabalho.

O programa executado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC) está sendo desenvolvido desde novembro de 2004 pela Sedu nas escolas estaduais. O programa surgiu com a proposta da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência, e a Cultura (Unesco) de abrir espaços nos fins de semana para contribuir com a redução da violência entre os jovens.

Com relação às obras da estrada, o governador Paulo Hartung destacou que o trecho asfaltado será mais um vetor para o desenvolvimento de toda a região, beneficiando não apenas os municípios de Jerônimo Monteiro e Muqui, mas também a população de Alegre, de Castelo, de Muniz Freire, de Atílio Vivácqua.

Com relação às obras da escola, Hartung lembrou que o Governo do Estado está desenvolvendo um conjunto inédito de intervenções na rede física das escolas, jogando os antigos prédios no chão e construindo uma nova escola, viva e atrativa para alunos, professores e para as famílias.

“Ao mesmo tempo também implantamos o ensino profissionalizante em nossa rede, passamos a oferecer bolsas de ensino técnico e superior, bolsas de inglês e estamos presentes, inclusive, nos cursos de mestrado e doutorado. Meu sonho é que o Espírito Santo se transforme nos próximos anos em um Estado provedor de gente qualificada para o Brasil e para o mundo”, afirmou (http://www.revistaopen.com/?modulo=materias&materia=256).

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