Biografia de José Monti

José Monti nasceu na Freguesia de Santo Stefano Lodigiano, Província da Lombardia, no dia 17 de março de 1887. Era filho legítimo de Carlos Monti e Petronilha Monti, imigrantes estabelecidos no Estado de São Paulo. Não se sabe ao certo quando embarcaram para o Brasil, provavelmente do porto de Gênova em razão de a Lombardia ser próxima ao porto, embora ainda não foram encontrados registros precisos no Memorial do Imigrante quanto à entrada de Carlo Monti e sua família na Hospedaria das Flores.

 

Sabe-se por relatos de sua sobrinha, Maria Penha Raia, muquiense, que Monti acompanhou o Circo Temperani, antigo circo de cavalhinhos*, desde São Paulo, inicialmente como cenógrafo. Exímio cantor e ator dramático, Monti aventurou-se com o circo por estados como Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. Foi amigo de Francisco Alves e Gastão Formenti, cantor e pintor e decorador como ele. 

 
Conheceu Annita Raja em Rio Casca, MG, durante uma apresentação circence. Foi amor à primeira vista. Ele, solteirão, com 30 anos e ela com quase 15. Logicamente a família de Annita, também de italianos, achando-a muito jovem para seguir o circo, proibiu o casamento. Porém o casal de apaixonados ameaçou fugir e com isso o casamento acabou por ser permitido. Annita nasceu em 17 de julho de 1902, contudo uma busca cartorária será feita em Rio Casca para certeza das datas de nascimento e casamento.

 

Considerando-se que o circo sempre faz uma breve tournée pelas cidades, imaginamos que o namoro, noivado e casamento tenham ocorrido durante o tempo da agenda por Rio Casca, pouco antes do tempo que foi preciso para alcançar a próxima parada vindos de Minas Gerais: supostamente Muqui, ES, haja vista que a passagem do Circo Temperani está registrada no "Muquyense" em fevereiro de 1917, quando anunciavam apresentações com sua equipe de artistas ginastas e acrobatas e shows de tiro ao alvo, momento em que Eduardo Temperani era lançado por um canhão a 15 metros de distância.

 

Novamente pelos relatos de Maria Raia, talvez tenha sido esta a viagem que o trouxe casado a Muqui, pois ao passar pela vila em outra ocasião, encantado com o local, decidira voltar e abandonar o circo para ali morar com sua esposa. Mais uma vez, pelos dizeres de Maria, Monti desligou-se do circo ao chegar em Muqui em fevereiro de 1917, já casado, isso porque coincidem suas idades: José nasceu em março de 1887 e em fevereiro de 1917 teria 30 completos. Se Annita nasceu em julho de 1902, em fevereiro de 1917 teria quase 15, idades coincidentes com os relatos da sobrinha. Estranhamente a inscrição na lápide de Annita diz que ela nasceu em 1882 e morreu em 1902, não só fazendo-a mais velha 5 anos do que Monti, como não batendo com a data do óbito que comprovadamente ocorreu em 1925.

 

Viveram em um chalé, localizado entre o Labortest e a Casa da Família Ayub, à Rua Cel. Luiz Carlos, Centro de Muqui, hoje demolido com outras construções no local. Não tiveram filhos. Annita era tão jovem que brincava com as crianças de Alexandre Ayub, seus vizinhos. Annita tinha dois cachorrinhos os quais adorava.

 

As atividades e qualificações de Monti, entre a data do casamento ao deixar o circo e a sua primeira assinatura em uma planta arquitetônica em Muqui em 1924 ainda não foram desvendadas. Sabe-se porém de suas exímias qualidades como desenhista e pintor. Na certidão de casamento das suas segundas núpcias Monti consta como decorador e cenógrafo, o que explica sua atividade circence e na decoração de fachadas e interiores encontrada em vários casarões de Muqui. Algumas famílias confirmam ter observado barrados pintados também em antigas fazendas, reiterando que esta técnica de estêncil (pintura vazada) já vinha sendo aplicada fora do centro urbano, porém sem saber-se a autoria.

 

Sr. Salvador Sílica Raia da Silva, pai de Maria Raia, veio de Minas ainda solteiro a pedido de Monti para ajudá-lo com as pinturas, tanto é que depois trabalhou como pintor por muitos anos. Preparavam as tintas e os moldes para realizarem os trabalhos. Os moldes eram confeccionados em papelão grosso que não molhava nem se desfazia após as pinturas. Cada molde correspondia a uma cor do risco desenhado, resultando na figura completa após o preenchimento de todos os detalhes.

 

A partir de 1913 já se observavam vários nomes de empreiteiros de obras em antigos relatórios editados pela Prefeitura de Muqui: Francisco Fittipaldi, Agostinho Rodrigues, José Germano, Franklin Leôncio da Cruz, Severino Vasquez, Arthur Montiiro, Antônio Brasil, Paulo José Ferreira, José Raimundo Nonato, além do primeiro Presidente da Câmara, o engenheiro Geraldo Viana e Fernando Cardoso Lisboa, construtor civil, empreiteiro que desde 1915 vinha anunciando construções e reconstruções, igualmente a Antônio Pedro Ribeiro desde 1916.

 

Talvez Monti tenha adquirido seus conhecimentos em obras neste tempo, pois além de ter sido exímio projetista, sócio do construtor Antônio Pimenta, foi Secretário de Obras em Muqui e terminou seus dias como Empreiteiro de Obras do DNER em Vitória. Ainda em Muqui é provável que tenha conseguido um registro especial no CREA  como construtor, fato comum na época, como aconteceu com Américo Maia, permitindo-o apenas a construir em certas cidades determinadas por este tipo de licença, liberando a construção de edificações não mais altas do que três andares por estes construtores autorizados desta forma.  Intenciona-se buscar o contrato no arquivomorto da empresa do DNER para confirmação histórica. Américo Maia, que iniciou como pedreiro aos 14 anos e que mais tarde também se candidatou a um CREA para obras locais, passando a ser responsável por obras maiores, foi aprendiz de Monti, que lhe passou vários conhecimentos inclusive o de estuque.

 

Sabe-se que o primeiro casarão inaugurado foi o do Cel. Fernando José Bastos em 29 de julho de 1923, hoje Casa "Carolina Haddad", na mesma época que de alguns outros, como a Casa "Luiz Siano", atual "Casa Anna Fraga", pois aparece pronta em uma foto no dia da inauguração do Jardim Municipal e da Fonte Luminosa em março de 1923 (ainda sem vestígios das obras do Grupo Marcondes de Souza que foi inaugurado em 1925), como também a atual Casa "Cesar Caçadini", antiga Casa "Porcari", vista em muitas fotos antigas, sem varandas ou platibandas, remetendo-nos à hipótese de que a inscrição do ano de 1923 que traz na fachada refere-se à data da reforma quando varandas, pinturas e estuques foram aplicadas, coincidindo com a data da maioria das fachadas aplicadas sobre antigas construções e suas antigas cumieiras.

 

Mediante anúncios feitos em o "Muquyense" a partir de 1923, lê-se que um dos construtores em atividade chamava-se João de Araújo e oferecia serviços de construção de prédios em qualquer estilo, à Rua Municipal, 34, Muqui (atual Av. Avides Fraga). Também em 1923 leem-se anúncios do Dr. Alberto Maisonneuve, de São Pedro de Itabapoana, cidade vizinha, oferecendo serviços de engenheiro em escritório aberto em Muqui.

 

Existe igualmente uma belíssima planta em nanquim assinada por José Monti em janeiro de 1924, de um belo sobrado eclético onde consta a localização, Av. Vieira Machado esquina com Rua Luiz Affonso, embora nenhum morador recorda-se de tê-la visto pronta porém o projeto foi assinado por Monti, reiterando mais uma vez que os primeiros casarões na vila começaram a surgir com sua participação, provando que já tinha grande experiência como projetista antes mesmo de sua sociedade com Pimenta.

 

A partir de março de 1924, são encontrados anúncios de "Monti & Pimenta", sociedade de Antonio Pimenta e José Monti, onde ofereciam serviços de empreiteiros, construtores de prédios e artes congêneras (pinturas e decoração das fachadas). Existe uma anotação em 1923 que Antônio Pimenta adquiriu 180 m² de uma área em frente ao jardim. Antônio devia ater-se à construção propriamente dita enquanto Monti ao projeto, pinturas e orientava profissionais para aplicação do estuque nas fachadas.

 

Desde agosto de 1925 José Monti (agora assinando-se com E, José Monte) passou a anunciar sozinho seus serviços de pintor e construtor, publicando meses depois já em 1926 em seguida o rompimento amigável da sociedade, constando que os ativos e passivos da empresa foram repassados a Monti.

 

Sabe-se por fotos e vereditos de moradores que a Casa "Anna Fraga" recebeu o anexo da varanda e seus afrescos assinados por Monti posteriormente à construção da ala principal pelos idos de 1923, haja vista o ano 1927 na assinatura, confirmando que as pinturas nas salas têm idade anterior à das varandas. Isso nos remete a dois momentos ou a dois estilos de Monti: As pinturas vazadas em interiores e exteriores e as paisagens nas varandas.

 

Monti é conhecido como autor da maioria das pinturas nas varandas e paredes sobreviventes, tanto como nas "Casas Amarelas", à Rua João Jacinto, 181, Boa Esperança, Muqui, onde funcionará o Museu Dr. Dirceu Cardoso, Muqui e sua História, haja vista a repetição dos temas encontrados na casa do Dr. Djalma Poty Formel, que traz documentos comprovando sua autoria.

 

Por entre os guardados pessoais na casa do Dr. Formel foi encontrada uma relíquia histórica: o livro-caixa da obra que ergueu a casa 88 (Referência de Tombamento) a partir de 1924 até os idos de 1928, mencionando item por item, preço por preço, inclusive citando e confirmando o material usado, inclusive as cores escolhidas, e os nomes dos dois pintores, José Monti e Godofredo Alves, pintores estes que vinham sendo apontados como os responsáveis pelas pinturas internas das alas íntimas de muitas casas da cidade, porém sem que se pudesse afirmar com cem por cento de certeza, o que passa a valer a partir deste achado.

 

Monti assinou também os afrescos na varanda da Casa "Luiz Siano", atual casa "Anna Fraga" em 1927, sendo que também executou as pinturas vazadas das salas sociais, em cores belíssimas, conforme relato de Geny Cúrcio, que se recorda ter presenciado Monti e Godofredo pintando deitados em andaimes, este último com um chapeuzinho de jornal na cabeça para não respingar tinta no cabelo. Monti foi autor das pinturas na varanda da Casa "Aurélio Rodrigues Alves", atual "Família Villela" em frente ao jardim, dos ricos tetos e afrescos da Casa "Marta Rodrigues", da Casa "Família Porcari", da Casa "Anna Ayub" e outras pela cidade. Monti foi o introdutor do estilo simbolista no ES.

 

Annita Raja Monti, sua primeira esposa, cujo casamento durara 9 anos, faleceu aos 23 anos de idade em 24 de outubro de 1925, acometida de septicemia gripal, óbito assinado pelo Dr. Poty Formel. Sua sobrinha confirma o fato, porém fora informada de que a tia morrera de febre tifóide muito jovem. Monti mesmo inconformado continuou trabalhando em Muqui, haja vista o anúncio do rompimento da sociedade com Antônio Pimenta em 1926, seus anúncios oferecendo serviços de construtor e pintor até os idos de 1927, as pinturas assinadas em 1927 e os registros de ser Secretário de Obras da Prefeitura em 1931.

 

Sabe-se pelo Livro de Óbitos que Antônio Pimenta e sua esposa, Josepha Garcia Perez, também perderam seu filho legítimo, Domingos Pimenta, carpinteiro, de tuberculose, apenas um mês antes que falecesse Annita, esposa de Monti. Imagina-se que houve um período difícil para a sociedade com as perdas de entes tão queridos, que acabou por terminar em 1926.

 

O engenheiro eletromecânico Paulo Amman anunciava no jornal em 1926 tanto quanto o torneiro Dionísio Gomes Filho. Havia também o Engenheiro-chefe do 1º. Distrito, Francisco Marques Y Guardia e o Escritório Técnico de Engenharia de Aristides Lopes anunciando em 1927.

 

Dois importantes carpinteiros da época foram José Dercy e Joaquim de Almeida. Marceneiro, José Raymundo Nonato desde 1914 e mais tarde José Martins. Montaram móveis e tetos personalizados em madeira, lustres, além dos vários operários envolvidos nas obras que se esmeravam levantando os belos casarões, a quem igualmente devemos responsabilizar pelos assoalhos, tetos, beirais, portas e janelas dos casarões da época.

Logo com o advento do "crack" da Bolsa de Nova York e consequente quebra os senhores do café em 1929, os tempos mudaram e as obras dos casarões cessaram, levando Monti a buscar outras atividades e a mudar para uma casa menor ao se casar novamente.

 

Monti casou-se em segundas núpcias em 24 de junho de 1927 com Alice Suman Vieira Machado, nascida em 13 de junho de 1911, filha de Pedro João Vieira Machado com sua terceira esposa, Esperança Suman. Monti agora com 40 e Alice com 16 anos. Ele apaixonara-se perdidamente pela bela menina. Levou a banda à porta de sua noiva às 5 da manhã para tirá-la de casa e levá-la bem cedo ao altar, conforme certidão do casamento religioso na Paróquia São João de Muqui.

 

Mudaram-se para um bangalô de duas janelas e pequena varanda, que Maria Raia diz ter sido alugada por Monti no terreno ao lado de outra propriedade também de Esperança Suman, sogra de Monti, ainda no local embora parte reformada, a casa da "Maria Helena" no Entre Morros. Esmeravam-se em seu lindo jardim de orquídeas e avencas e samambaias para refrescar as orquídeas, onde cantavam dezenas de passarinhos, tucano, mutun (galo selvagem) e outros. Dizem que anos mais tarde, Monti abriu no quintal um tipo de loja onde fornecia material de construção. Até que ele desmanchou esta loja e fez um lindo jardim e uma casinha de boneca para a Isis, filha de Líbio Vieira Machado, sobrinha e afilhada de Alice, dono da tipografia Vieira Machado onde antigamente funcionou a farmácia do Ernani Monteiro de Castro. Dentro da casinha foi tudo confeccionado em miniaturas.

 

Antigos moradores confirmam que Monti ou seu companheiro Godofredo pintou a casa de "Martha Maria Rodrigues", haja vista as maravilhosas pinturas que a casa apresenta. Conta Penha Raia que Monti foi também contratado para executar trabalhos em Vitória, onde pintou algumas casas.

 

Ainda em 1926, Antônio Pimenta reconstrói uma ponte no Entre Morros para a Prefeitura na estrada para a Fazenda "Santa Rita" e José Monti foi o encarregado de obras da Prefeitura na construção da Cadeia e do Quartel em 1927 e na reforma do Açougue Municipal à Rua dos Operários em 1931. O povo queixava-se de que a balança de 60 kg estava apoiada de um lado em jornal dobrado, mudando a aferição para menos, prejudicando a freguesia, o que levou a novas instalações.

 

Soube-se que Monti era extremamente exigente como Secretário de Obras da Prefeitura e um dia, quando a cidade foi inundada por fortes chuvas, enlameando as estradas, Monti proibiu peremptoriamente o tráfego de carros para não marcar os atoleiros com as rodas. Porém, Achilles Tedoldi, o "Quillen", desobedeceu as ordens de Monti e criou-se um grande impasse por tal infração. Andava de patrol, era responsável pelas estradas.

 

Existem dois registros de Monti na "Vila Proletária" (antiga vila que começava pela região da Igreja Presbiteriana virando na direção do Cemitério Municipal, haja vista escritura de aforamento na Prefeitura de Muqui citando tal localização) de imóveis alugados, cujas anotações desaparecem em 1939, nos Registros de Lançamentos de Imposto Predial e Taxas domiciliária, sanitária e limpeza pública, acusando que uma parte do imóvel encontrava-se fechada.

 

Alice não levou nada para casar-se. A casa possuía tudo o que precisava. Roupas, jóias, chapéus. Monti e Alice eram padrinhos de coração de Glorinha, irmã de Ester Abreu Vieira de Oliveira, filhas de Maria da Penha Abreu Vieira e Sr. Ataulfo, netas de Pedro João Vieira Machado, que colaboram com estas informações sobre sua tia Alice, irmã de Ataulfo. O casal não teve filhos e queriam "adotar" Glorinha, pois tinham grande afeição pela menina. Quando Ester se casou e passou a morar em Santo Antonio, Monti ia visitá-la. Quando Maria da Penha vinha de Muqui para ver a filha, Monti sempre ia visitá-las. Monti tinha uma voz bonita e cantava nas reuniões na Fazenda da Cachoeirinha, hoje demolida, onde Maria da Penha lecionou por muitos anos.

  

Alice era muito vaidosa e ciente da sua beleza. Todas as vezes que Monti viajava, para o Rio ou São Paulo, lhe trazia roupas, sapatos, etc. Ela tinha uma coleção de sapatos lindos. Alice presenteava Maria da Penha com alguns pares, que as primas Isis e Ester costumavam calçar para brincar. Na casa de Alice foram instalados, na ocasião, um chuveiro elétrico e um ferro. Uma novidade! Depois, só se viu iguais na casa do seu Jorge Nunes. Parece que a eletricidade não tinha força suficiente para aquecê-los.

  

Alice vendeu para Maria da Penha um móvel que ficava na cozinha, um "itager", que hoje ocupa a sala de um irmão de Ester e de Glorinha. Na sala da casa havia um "canapé" no qual Monti se deitava. Nesses dias nenhuma criança podia brincar. Tinha que ser feito silêncio, pois Monti sofria de enxaqueca. Mas sempre elegante, deitava ali com um chambre de seda. Parecia um artista de cinema. Seus sapatos eram bonitos. Havia um branco, com pontas pretas. As sobrinhas o consideravam, ainda meninas: "bonito e chic".

  

Alice brincava de pique com as sobrinhas. Ela criava um papagaio que falava os nomes delas encantando-as: "Tetê" e "Isis", prima de Ester, filha do Sr. Líbio. A casa de Alice e Monti era um bangalô no Entre Morros, vizinhança com os Berilli que tinham ali uma loja de secos e molhados. Depois dos Berilli, havia o Vicente, irmão do proprietário que vendia colares de ouro, um senhor simpático, alto e moreno, Sr. João Gonçalves. A casa de Alice ficava logo depois da de Pedro João e Da. Esperança Suman e também do Sr. Líbio.

  

Havia no jardim as rosas mais bonitas, grandes brancas, toda qualidade de flores que Monti encontrava em suas viagens trazia para Alice.  No pomar criavam aves aquáticas raras, patos e ali crescia um lindo pé de romã. Havia balanços no quintal da casa e no jardim um caramanchão florido com bancos-balanços, aquelas cadeiras de madeira que balançam com dois lugares de cada lado que a gente vê nos postais antigos românticos. Os balanços do quintal eram pensos em correntes, com cadeiras como nos parques.

  

Havia também uma casa para o empregado. Alice gostava de cinema e só ia acompanhada de Maria da Penha, quando Monti não estava. Monti era tão ciumento, que deixou de viajar, de passear e queria manter a jovem esposa numa redoma, proibindo-a de sair de casa. Por tanto ciúme, acabaram se separando. No final, Alice teve que fugir de casa para se casar com Monti e também teve que fugir de casa quando não deu mais para viver com ele. Alice partiu para o Rio de Janeiro, sem dar notícias, após 20 anos de casamento.

  

Monti, desanimado da vida, apaixonado, perdendo o sentido da vida, saiu de Muqui pelos idos de 1947, abandonando tudo que construíra na cidade e foi morar em Vitória. Ficou tão arrasado que trancou seu bangalô com tudo dentro, deixando terreno, casa, mobília e, igualmente à ex-esposa, partiu para nunca mais voltar, não só conforme relatos da sobrinha, Penha Raia, como de pessoas e vizinhos que o conheceram. Não se sabe o que foi feito dos dois cachorrinhos de Annita, que ele ainda mantinha quando partiu.

 

Monti mudou-se definitivamente para Vitória onde trabalhou para o DNER como empreiteiro de obras. Foi viver próximo a uma família de italianos que havia conhecido. Há relatos que contam que ele morava na casa destes amigos, à Av. Maruípe. Parece que era hóspede de alguém que gostava muito dele. Monti morreu em 25 de setembro de 1966. Depois que Monti faleceu, Alice, já viúva, casou-se com um senhor juiz aposentado em Curitiba. Depois que seu segundo marido também faleceu, Alice foi viver em Belo Horizonte na casa de Jacy, sua irmã, que também enviuvara. Julieta também era sua irmã, eram muito amigas.

 

Monti está enterrado no Cemitério Santo Antônio em Vitória em um túmulo de granito preto, que traz inscrito um grande S com a palavra "Saudade". Sua lápide está registrada sob No. 410, 4º. Plano, porém em total abandono. Há uns dois anos, em 2006, um funcionário do DNER ligou para a sobrinha de Monti pedindo informações mais precisas sobre ele, o que no momento seria mais fácil de oferecer, após estes dados terem sido colhidos.

 

Ester conta que costuma ir ao cemitério para colocar flores no túmulo de seus pais e no do seu tio Monti e está preocupada com o estado do túmulo, que pretende restaurar. Ester conta que quando ia ao cemitério em dias de finados, antes de ela chegar sempre havia uma flor. Disse-lhe seu marido que era dessa mulher que hospedava Monti. Mas as flores sumiram. Não se sabe se a pessoa envelheceu ou morreu.

Alice morreu em Belo Horizonte em um mês de agosto. (vide foto de Alice oferecida à Glorinha em 1952 na Galeria de Fotos)

 

Porém, existe um dilema: observam-se dados coincidentes sobre outro pintor, algumas vezes confundido com José Monti, porém que assina "A. Monti", pintor igualmente italiano, também vindo para o Rio de Janeiro no início do século passado. Em 1912, A. Monti muda-se para Vitória, a convite de Túlio Samorini**, de quem foi amigo e auxiliar nos trabalhos de decoração de interiores. No entanto, igualmente elaborou pinturas a óleo sobre tela, algumas das quais se encontram no Museu do Colono, em Santa Leopoldina. Dos trabalhos decorativos e dos murais pintados em residências, cômodos da Vila Oscarina, residência de Antônio Guimarães no Parque Moscoso, e os do Colégio Nossa senhora Auxiliadora, nada chegou até nossos dias. Esses trabalhos foram elaborados em parceria com Samorini.

 

Mediante a coincidência de habilidades e época, resta-nos confirmar quem são A. Monti e José Monti, para eliminarmos a suposta duplicidade de identidade e/ou autoria dos trabalhos. Resta-nos estudar com mais atenção as assinaturas, dados pessoais e estilos, para definir-se se existe a confusão de nomes, se realmente são duas pessoas distintas, agravado pelo fato de que José Monti em seus trabalhos em Muqui assinava apenas MONTI para, assim, não se cometer uma injustiça homenageando outro artista por engano, obviamente sem a intenção de tirar seus méritos individuais.

 

* Circo de Cavalinhos: Há indícios de que o circo teria evoluído para a forma que conhecemos hoje em dia em decorrência de um capricho de um general que teria colocado seus soldados em montaria  a desfilar em círculo e descobrira que os cavalos desenvolviam um tipo diferente de cavalgadura (trote) e que por causa das forças centrípeta (que se dirige para o centro) e centrífuga (que se afasta do centro). Estas forças agiriam sobre os cavalos, possibilitando que as pessoas se posicionassem de pé sobre eles. Dá-se aí a origem do "circo de cavalinhos".

 

** Túlio Samorini: Nasceu em Roma, Itália, a 01 de novembro de 1882.  Faleceu em Vitória, em 16 outubro de 1944. Filho de Rômulo Samorini e Fabrini Virgínia.  Aos 13 anos de idade vai para a França, onde inicia a profissão de pintor, decorador de paredes. Durante a temporada na França realizou vários trabalhos , sendo o mais importante, a pintura do interior do Cassino de Monti Carlo.  A vinda de muitos pintores, artesãos e decoradores para o Brasil no final do século passado, transforma-se também num sonho para o jovem Túlio, por acreditar que aqui encontraria novas oportunidades de trabalho.

 

Assim, deixa a família em Roma e parte para Gênova, em maio de 1908, chegando ao Rio de Janeiro no dia 29 do mesmo mês. Permanece no Rio de Janeiro apenas 4 anos, onde deu continuidade às atividades de pintor-decorador de paredes. Ali conhece outro pintor italiano A. Monti, de quem se tornou grande amigo e ambos passam a trabalhar em conjunto.  Em 1912 resolvem vir juntos para Vitória, onde não encontraram dificuldades para trabalhar na profissão.   Apenas 05 meses após se mudar para esta cidade, casa-se com Carmélia Gianordoli, filha de tradicional família italiana. Passam a viver no Parque Moscoso (antigo Campinho), depois na Rua do Fogo, atual Rua Caramuru (na Cidade Alta), onde nasceram seus filhos: Rômulo, Carmem e Cecília.

 

Alguns anos depois, Samorini e família mudam-se para uma casa maior, na Rua 7 de setembro, cujas paredes foram pintadas inteiramente pelo artista: naturezas mortas e flores (margaridas, rosas, crisântemos e violetas). Entre suas obras mais conhecidas em Vitória, estavam, o interior da Capela do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora (antigo Carmo), onde auxiliado por Monti, pintou anjos, medalhões, cúpula e relevos. Pintou também murais para a residência de Antenor Guimarães, conhecida como Vila Oscarina (no Parque Moscoso). Essas pinturas desapareceram embaixo de camadas de caiação, depois que a residência foi transformada num pensionato de freiras, nos anos 60.  Em 1920, intoxicado pelas tintas que usava, foi proibido de pintar pelos médicos. Isto o obriga a mudar de atividade, inaugurando em 03 de maio do mesmo ano a Tipografia Samorini, primeira empresa do ramo em Vitória e que se mantém ainda hoje, administrada por seus descendentes.

   

 

 

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